Dirigente do Partido Comunista Português morreu esta terça-feira aos 74 anos.
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A casa de Ruben de Carvalho, que esta terça-feira morreu aos 74 anos, era um espelho da sua vida política como militante e dirigente do PCP, melómano e homens de letras - um rés-do-chão cheio de livros, posters e discos.
O rés-do-chão era, na verdade, uma garagem, na Amadora, Lisboa, transformada em casa-biblioteca. Amplo, cheio de estantes, livros, discos de vinil, era onde Ruben de Carvalho conservava a coluna de som que comprou quando ainda era jovem e, há anos, ainda ligava para ouvir a música de que gostava, do fado ao jazz, passando pelos blues, a música americana em que era especialista.
Lá estavam coleções de jornais - foi jornalista, chefe de redação da "Vida Mundial", do "Avante!" --, alguns posters a anunciar acontecimentos do PCP ou concertos. Foi, desde a primeira edição, em 1976, um dos organizadores da festa do "Avante!".
Ruben era o único membro do atual Comité Central do PCP que tinha estado preso nas prisões da PIDE, a polícia política do regime ditatorial derrubado pelo 25 de Abril de 1974. "Tiveram a fineza de me apresentar todas as prisões do fascismo", ironizou, em entrevista ao Observador, em 2016.
Politicamente, foi um defensor da solução governativa em que o PCP apoiou, no parlamento, com o PEV e BE, o Governo minoritário do PS, e tinha tido a experiência autárquica na câmara de Lisboa, como vereador da CDU, durante os anos em que António Costa foi presidente do município (2007-2013), que conheceu bem -- "andei com ele ao colo" - por os pais serem amigos.
"Votei favoravelmente esta solução que não marca nenhuma alteração particular da parte do PCP. Sempre defendemos a necessidade de uma alternativa de esquerda para a governação. Não tiramos nenhum coelho do chapéu", afirmou ainda ao Observador, recordando que em 2015 "criaram-se condições objetivas", os resultados eleitorais, "e subjetivas para que isso acontecesse".
Ruben Luís Tristão de Carvalho e Silva nasceu em Lisboa em 21 de julho de 1944 e aderiu ao PCP em 1970, depois de ter passado pela direção da comissão pró-associação dos estudantes do ensino liceal e da Faculdade de Letras, ainda na década de 1960.
Foi preso pela PIDE seis vezes (esteve em Caxias e no Aljube), a primeira das quais em 1961 e a última em 07 de abril, 18 dias antes do golpe de estado.
Antes de ser militante comunista, foi também membro das comissões juvenis de apoio à candidatura de Humberto Delgado (1958) e da Comissão Democrática Eleitoral (CDE), nos anos 1960 e 1970.
Após o 25 de Abril e da "revolução dos cravos", pertenceu ao MDP/CDE e, no I Governo Provisório foi chefe de gabinete do ministro Pereira de Moura e foi deputado à Assembleia da República eleito em 1995.
Jornalista de profissão, Ruben de Carvalho foi redator coordenador no jornal "O Século", chefe de redação na revista "Vida Mundial", na década de 1960, e também chefe de redação do semanário "Avante!", órgão central do PCP, entre abril de 1974 e 1995. E foi depois cronista em vários jornais, como o "Diário de Notícias".
Numa altura em que eram poucos ou nenhuns os festivais de música em Portugal, a Festa do Avante!, em que Ruben de Carvalho foi um dos organizadores, foi cartaz para muitas novidades. Num mundo dividido pela Guerra Fria, entre EUA e URSS, o festival mostrou, em palco, o Coro dos Cossacos de Kuban, mas também o 'rock' os Dexy's Midgnight Runners, o 'folk' de Judy Collins, e ainda assistiu à estreia, em Portugal, de Chico Buarque.
Ruben de Carvalho foi, além de jornalista, autor de vários livros, uns mais políticos, como o "Dossier Carlucci-CIA", sobre o primeiro embaixador dos EUA em Lisboa após a revolução, e outros mais culturais, como "As Músicas do Fado" ou "As Palavras das Cantigas", em que organizou um livro póstumo de José Carlos Ary dos Santos.
Nos últimos tempos, tinha na Antena 1 o programa "Radicais Livres", em que debatia e falava com Jaime Nogueira Pinto sobre temas da atualidade.
Um à esquerda e outro à direita, recordou Nogueira Pinto esta terça-feira ao Público, se uma discussão chegasse a um impasse, havia solução: "Uma piada punha tudo no sítio."
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