Convites para a Luz eram pedidos por mail com o conhecimento do presidente do Benfica.
1 / 4
Quando pedia à funcionária Ana Zagalo, do Benfica, convites destinados a Júlio Manuel Loureiro, para que o funcionário judicial pudesse assistir, com amigos e familiares, aos jogos no estádio da Luz, Paulo Gonçalves enviava sempre os mails com conhecimento do presidente Luís Filipe Vieira.
O que mostra que Vieira estava por dentro das ofertas do seu braço-direito e responsável pelo departamento jurídico – contrapartidas que levaram ontem à detenção de Gonçalves. Responde por corrupção ativa, visto que, em troca, dois funcionários judiciais forneciam peças processuais do caso dos mails – e de outros, até que visassem os rivais do Sporting e FC Porto –, em que o Benfica e os seus dirigentes estão a ser investigados por corrupção desportiva, num esquema com alguns árbitros, por alegado favorecimento.
Foi assim, por exemplo, dias antes do Benfica-FC Porto de 1 de abril de 2017, num mail em que Gonçalves pede três bilhetes para Loureiro no segundo piso; e, uma semana depois, quando solicita quatro convites para que o funcionário do tribunal de Guimarães assista, com amigos, a outro jogo, no piso 1 – mais conhecido por anel VIP.
O presidente das águias sabia destas ofertas, como comprovam os mails tornados públicos – mas, como os documentos foram obtidos de forma ilícita, é uma prova que a Unidade de Combate à Corrupção da PJ e o DIAP não pode usar. E, também por isso, Vieira não foi, ainda, indiciado por corrupção.
Sorte diferente tiveram o braço-direito, Gonçalves, e José Nogueira da Silva, um dos funcionários que, nos tribunais de Guimarães e de Fafe, usava credenciais próprias, de colegas e de magistrados, para aceder ao Citius, base de dados da Justiça, na qual fez centenas de pesquisas sobre o processo dos mails e outros – tudo para servir o Benfica, que tentava acompanhar a par e passo as investigações.
Estão os dois detidos, por corrupção ativa e passiva, acesso ilegítimo, violação de segredo de Justiça, falsidade informática e favorecimento pessoal. E há outros arguidos – como o funcionário judicial Júlio Loureiro e o empresário de futebol Óscar Manuel Cruz, que fazia a ponte entre oficiais de Justiça e Paulo Gonçalves. Para os subornados, as contrapartidas eram convites para os jogos, a oferta de produtos de merchandising, como camisolas da equipa do Benfica, e, no caso de José Silva, o seu sobrinho Fernando iria receber um cargo no museu do clube.
Jurista criou as SAD do Porto e Boavista
Nascido no Porto há 48 anos, foi nos azuis-e-brancos que Paulo Gonçalves deu os primeiros passos no mundo do futebol. Foi um dos responsáveis pela criação da SAD do FC Porto, no final da década de 1990, logo depois de terminar o curso de Direito.
A entrada no clube fez-se pela mão de Alexandre Pinto da Costa, de quem era muito amigo, mas com quem se incompatibilizou anos depois. Outra zanga marcou o corte de relações com Adelino Caldeira, com quem tinha chegado a trabalhar no mesmo escritório de advogados. Em 2000, rumou para outro grande clube da cidade do Porto. No Boavista ajudou a criar a SAD e era diretor- -geral da mesma quando o clube então presidido por João Loureiro ganhou o campeonato. Paulo Gonçalves estava nos axadrezados quando rebentou o Apito Dourado e embora não tivesse sido constituído arguido, o seu nome surgiu de forma amiúde ligado ao escândalo que atirou o clube para a 2ª divisão.
Ainda no Boavista, foi apontado para a Liga de Clubes, para substituir Emanuel Medeiros, no cargo de secretário-geral. É a contestação do FC Porto que o obriga a sair de cena. Ao Benfica, Paulo Gonçalves chega em 2007, pela mão de José Veiga. Assume funções como assessor jurídico da SAD. Braço-direito de Vieira, é ele que, muitas vezes, representa as águias nas assembleias-gerais da Liga.
Benfica diz confiar "na legalidade" das ações do jurista
A Benfica SAD fez ontem um comunicado em que diz estar disponível para colaborar com a Justiça "no integral apuramento da verdade", tendo manifestado "confiança e convicção de que o Dr. Paulo Gonçalves terá oportunidade, no âmbito do processo judicial, de provar a legalidade dos seus procedimentos". Foi ainda anunciado que o Benfica vai pedir uma audiência à PGR pelas "reiteradas violações de segredo de Justiça", que, segundo o comunicado, visam o clube.
Buscas à SAD preparadas pelos advogados
Depois de Paulo Gonçalves ter conhecido o andamento do processo dos mails, a sociedade de advogados Vieira de Almeida chegou a dar formações a funcionários do Benfica sobre a forma de se comportarem em caso de buscas à SAD e, quando as mesmas aconteceram, em outubro, a PJ chegou a encontrar documentos processuais, que estão em segredo de Justiça, nas instalações do clube.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.