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“Vítimas têm sentimento de perda e de horror”

Vítimas desesperam por apoios do estado que tardam em chegar.

24 de março de 2018 às 01:30

"Não sei o que é viver, não tenho vida própria. Desde aquele dia [15 de outubro de 2017] tudo mudou na minha vida". O desabafo, em forma de desespero, de Ermelinda Lopes, residente em Mouraz, Tondela, foi um dos mais marcantes ouvidos ontem naquele concelho durante a operação ‘CM Não Esquece!’.

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E ficou bem evidente que, mais de cinco meses depois da tragédia, as vítimas dos fogos ainda vivem em sofrimento próprio de quem perdeu familiares e também os bens essenciais de uma vida construída com grande sacrifício. Durante o dia, os repórteres do CM/CMTV percorreram a extensa área ardida pelos incêndios de outubro, mais de 150 quilómetros quadrados, e deram voz às pessoas que já estão a ver as suas casas reconstruídas, outras que ainda esperam pelo dinheiro prometido e quem até agora não recebeu qualquer apoio por parte das entidades públicas. É o caso de Ermelinda Lopes. "Tenho recebido a ajuda de vizinhos e de amigos", adiantou.

Sandra Almeida, psicóloga dos serviços sociais da Câmara de Tondela, garante que há muitas pessoas que "ainda não conseguiram ultrapassar o sentimento de perda e o horror" que viveram naqueles dias de outubro. "Criámos uma rede de apoio de técnicos, de várias instituições, que apoiam as vítimas. As pessoas têm a necessidade de falar do assunto", referiu a psicóloga.

Precisam de falar para que, de certa forma, a tragédia tão cedo não seja esquecida. Em Dardavaz, Emília Ferreira está a fazer o luto. O marido não morreu na noite do fogo, mas sentiu-se mal e teve um ataque cardíaco. Foi para o hospital e acabou por morrer. É considerada uma vítima indireta. "É difícil esquecer isto. Perdi o meu homem e os aviários", desabafou Emília. António Matos desorientou-se na noite do fogo e "veio a si" a muitos quilómetros de distância da sua casa.

"Salvou-se a casa e o cão", disse.

"Vemos que continua tudo na mesma" 

"Vemos que continua tudo na mesma", disse. "E não venham com a desculpa de que já ardeu e não é prioridade", rematou.

Associação arrasa prioridade do Estado 

Com um comunicado em que o título é "para os lesados da banca milhões, para os lesados dos incêndios nem tostões", Fernando Pereira, presidente da MAAVIM, exige "a reabertura de portal para agricultores", reclama "reconhecimento de segunda habitação" e acusa o Governo de "esconder 100 mil hectares de área agrícola ardida nos incêndios".

"A fome e a miséria são hoje uma realidade para quem tudo perdeu e não tem meios de subsistência. De que valem as palavras de apoio dos responsáveis do Ministério da Agricultura quando as tragédias acontecem se depois nada fazem e só dificultam a vida de quem já nada tem?"

"Ninguém vai ficar sem casa" 

Correio da Manhã – Que balanço faz deste dia [de ontem] em que se recordou a tragédia dos incêndios?

José António Jesus – Grande parte do nosso território sofreu uma calamidade nos fogos de outubro, e é bom que o País não esqueça esta tragédia, ainda por recuperar em muitos domínios.

–Muitos populares ainda se queixam da falta de apoios.

– Sobretudo na agricultura. Os pequenos apoios até cinco mil euros não são estruturais para pessoas que perderam edificações, alfaias e animais.

- E na habitação?

– Estamos a fazer um esforço. Falta o visto do Tribunal de Contas para começar a grande empreitada. Posso garantir que até ao fim do ano ninguém vai ficar sem primeira habitação.

PORMENORES 

400 casas destruídas

O incêndio de 15 de outubro destruiu 400 habitações no concelho de Tondela, sendo que cerca de metade eram de primeira habitação. Algumas já estão em obras de recuperação.

Início na Lousã

Um dos incêndios que fustigou a região Centro naquele dia começou na Lousã e, depois, estendeu-se a Penacova, Mortágua, Santa Comba Dão, Tondela e Carregal do Sal.

Várias frentes

Em Tondela, a 15 de outubro, entrou fogo de várias frentes: de Santa Comba Dão e também de Vouzela e Oliveira de Frades, através da serra do Caramulo.

Ataque deficiente

A falta de meios aéreos e também de forças terrestres levou a que os fogos de meados de outubro atingissem proporções gigantescas. Isto aliado às condições adversas do tempo.

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