Considerado uma doença mental desde 2019, a origem do termo remonta a 1974.
Burnout é a designação que pretende significar, numa só palavra, a doença mental resultante do acumular de stress e desgaste mental devido ao trabalho. O burnout é, mais do que o stress ou cansaço ocasional, uma resposta do organismo a um conjunto de fatores desgastantes e prolongados no tempo, ou mesmo crónicos.
Com origem na junção das palavras “burn” e “out”, que significam ‘queimar’ e ‘fora’, o criador da expressão tinha a intenção de explicar que o esgotamento acontecia por forte influência de fatores externos.
Um termo com 50 anos
A primeira vez que a expressão “burnout” foi utilizada para se referir ao esgotamento profissional remonta a 1974. O psicólogo Herbert Freudenberger foi o autor da expressão (escrita, originalmente, “burnt out”) e o primeiro a desenvolver estudos sobre o tema.
A ‘descoberta’ está relacionada com o movimento das Free Clinic (clínicas grátis, em português) a partir de 1987, quando a primeira Free Clinic foi criada, em Haight-Ashbury, São Francisco, EUA.
O objetivo destes espaços era servir a população jovem, que procurava cuidados de saúde referentes, principalmente a infeções e aos efeitos colaterais do uso de drogas.
Freudenberger visitou Haight-Ashbury, em 1967 e 1968, antes de ajudar na inauguração de uma Free Clinic, em Nova Iorque, em janeiro de 1970.
O facto de estas clínicas serem grátis e, portanto, alimentadas por trabalho extra e voluntário, levou a que os trabalhadores desenvolvessem um estado de exaustão física e mental elevado.
Numa das suas obras, o psicólogo descreve e analisa as emoções que conduzem os voluntários da clínica ao estado de burnout.
“A maior parte do que se faz lá é feito depois do horário normal de trabalho. Começas o teu segundo trabalho quando a maioria das pessoas vai descansar e dás muito de ti no trabalho. Tu exiges isso de ti, a equipa exige isso de ti, e a população que estás a servir exige isso de ti. Como geralmente acontece, cada vez mais exigências são feitas a cada vez menos pessoas. Gradualmente, isso vai criando nas pessoas que o rodeiam, e em nós próprios, o sentimento de que eles precisam de nós. Sente-se um sentido de compromisso total. Todo o ambiente se desenvolve, até que finalmente nos encontramos, como eu, num estado de exaustão”.
Ao longo do tempo, Herbert Freudenberger continuou a desenvolver estudos sobre o burnout, de que o próprio assumiu sofrer, e, posteriormente, surgiram várias definições para a síndrome. A maioria dos autores concorda que o burnout é o resultado do stress profissional prolongado ou crónico.
Apesar de o termo ter surgido há 50 anos, só foi reconhecido pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como uma doença mental em 2019, passando a integrar oficialmente a lista só em janeiro de 2022.
Burnout na Europa
Segundo dados de 2022 da Small Business Prices, numa análise que incluiu 26 países europeus, Portugal é o país cujos trabalhadores correm maior risco de desenvolvimento de burnout. A completar o top três estão a Grécia e a Letónia (em segundo e terceiro lugar, respetivamente).
O mesmo estudo fornece informações sobre o índice de felicidade, o salário médio anual e a média de horas de trabalho por semana.
Portugal é o país com o terceiro salário mais baixo da lista (22.373€) e onde o número de horas semanais é um dos mais elevados (39,5 horas). Já a Grécia regista o índice de felicidade mais baixo do grupo (5.3), assim como um dos mais baixos salários (23.066€) e um número de horas semanal de trabalho relativamente elevado (38,8 horas). No caso da Letónia, embora o país não ocupe o lugar de destaque negativo em nenhuma das categorias, os valores são mais negativos do que a maioria (podendo existir outros fatores a contribuir para o resultado geral).
Numa análise a outros dados relevantes, entende-se que a Eslováquia, que ocupa o 5.º lugar no ranking, é o país onde se ganha menos (21.380€), sendo o número de horas por semana de 39,1. Por sua vez, o país onde mais horas se trabalha por semana é a República Checa, com um total de 40 horas semanais (apenas 0,5 mais do que em Portugal).
Através destes resultados, é possível estabelecer uma ligação bastante direta entre as condições laborais – nomeadamente a relação entre a remuneração e o número de horas de trabalho – e o maior ou menor risco de desenvolvimento de burnout.
Burnout em Portugal
Em Portugal, diferentes estudos mostram que o problema tem vindo a aumentar. A Associação de Psicologia da Saúde Ocupacional revelou que, em 2016, 17,3% dos trabalhadores portugueses estavam em burnout. A percentagem mostra um aumento progressivo, uma vez que, em 2008, era de 9% e, em 2013, era de 15%.
De acordo com a mesma associação, mais de 87% dos trabalhadores portugueses confessaram não se sentirem devidamente recompensados na sua atividade profissional. Valor que revela, novamente, um aumento face a 2013, ano em que 73% dos trabalhadores apresentavam este sentimento.
No mesmo estudo, cerca de 86% dos portugueses assumiram enfrentar situações de stress no trabalho, quando em 2013 a percentagem era de 62%.
Dados mais recentes do estudo STRADA Health Report 2022, identificam que mais de metade dos portugueses afirma já ter sofrido ou ter estado perto de sofrer burnout, devido a condições de trabalho desgastantes.
Como sinalizar o burnout?
O que o distingue o burnout do cansaço ocasional é o aparecimento de um largo conjunto de sintomas e a intensidade dos mesmos.
O hospital Lusíadas, num artigo com revisão científica de Fernando Almeida, Coordenador da Unidade de Psiquiatria dos Lusíadas, no Porto, explica que os sintomas podem dividir-se em afetivos, cognitivos, físicos ou alterações comportamentais.
Os sintomas afetivos podem incluir tristeza, irritabilidade, perda de controlo emocional, desânimo, apatia, humilhação, revolta, mágoa, fúria e preocupação.
Dificuldades de atenção e de concentração, de memória e a diminuição da autoconfiança e autoestima são alguns dos sintomas cognitivos de quem pode estar a sofrer um burnout.
Fisicamente, a sensação de falta de ar e batimentos cardíacos acelerados são alguns dos sintomas físicos mais óbvios de um burnout, assim como a fadiga. No entanto, sintomas gastrointestinais, hipertensão arterial e problemas na pele e nos músculos também podem significar um burnout.
Fortemente relacionados com os sintomas afetivos, quem sofre de burnout também pode apresentar alterações comportamentais, como o aumento da rispidez e de comportamentos agressivos ou, por outro lado, ter tendência ao isolamento social.
Fernando Almeida explica que o burnout tem cura, na maioria das vezes, e que o tratamento deve passar sempre pelo acompanhamento com um profissional de saúde.
Burnout, depressão e ansiedade
O burnout é uma doença mental que pode não surgir sozinha, sendo frequentemente acompanhada pela depressão e/ou pela ansiedade
Uma vez que vários sintomas são coincidentes, nem sempre é possível, inclusive, efetuar um diagnóstico separado das doenças.
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