Provedor apela a que as autoridades transfiram esses doentes para unidades de saúde.
O provedor da Santa Casa da Misericórdia de Ovar, que acolhe atualmente 23 utentes infetados com covid-19, alertou este sábado que a instituição "não é uma unidade de saúde", apelando a que as autoridades transfiram esses doentes para hospitais.
Em declarações à Lusa, Álvaro Silva explicou que após um primeiro óbito no fim de março, o lar apoiado pelo Estado está a tratar de 23 idosos contaminados, tem oito seniores internados em hospitais da região e viu outros quatro hospitalizados após um primeiro teste negativo, porque passaram entretanto a evidenciar sintomas.
Entre os 120 utentes desse mesmo lar, à lista de um óbito, 31 casos confirmados e quatro potenciais positivos acrescentam-se ainda quatro funcionárias doentes.
"Isto quer dizer que a situação não está negra, mas que a qualquer momento, de um minuto para o outro, pode ficar", afirma Álvaro Silva.
O serviço desse espaço de acolhimento está a ser assegurado por uma equipa de 25 técnicos e enfermeiros que residem em permanência na instituição e são substituídos a cada 15 dias por outro grupo de assistentes, mas o provedor da Santa Casa de Ovar realça: "Um lar não é um hospital".
"Mesmo separando os utentes e levando os que estão doentes para o centro de dia, que agora não está a funcionar e fica reservado para os casos de covid-19, é preciso que as pessoas se lembrem que nós não temos estrutura para garantir apoio médico a estes idosos. A qualquer momento podemos ver-nos incapacitados de lhe dar acompanhamento adequado, porque ao sexto ou sétimo dia de sintomas, dá-se um agravamento galopante do seu estado físico e nós não temos equipa médica profissional para reagir", explica.
Além deste espaço, a Misericórdia tem um lar não-protocolado com a Segurança Social que, segundo Álvaro Siza, "está bem" e tem os seus 45 utentes saudáveis.
Álvaro Silva reconhece que, após a primeira morte no referido lar apoiado pelo Estado, a autarquia local interveio junto do Ministério da Saúde para garantir testes de rastreio aos seus 120 utentes e 25 funcionários, mas recorda que também houve o compromisso "não cumprido" pelo Governo de afetar a esse espaço uma equipa médica específica.
"O problema é que a 'equipa' foi um único médico, que era generalista, só cá esteve uns dias e, além do estetoscópio, não tinha equipamento de diagnóstico adequado. Duas enfermeiras também cá vieram, mas limitaram-se a falar com as nossas sobre o que deviam fazer e, entretanto, ficou tudo na mesma, logo agora que se entra na fase de maior risco", conta o provedor.
Álvaro Silva rejeita "o argumento da Autoridade de Saúde Local" quando diz que, tal como na Misericórdia, há muitos infetados com covid-19 a convalescer em casa, sem passar pelos hospitais.
"É um absurdo comparar pessoas de 40 ou 50 anos com idosos de 80 ou 90, que ainda têm uma série de outras patologias. São dois universos completamente diferentes", justifica.
O apelo do provedor a que "os infetados sejam internados em unidades de saúde adequadas" resulta assim do sentido de responsabilidade que a Santa Casa diz ter sobre os seus utentes: "Eles residem aqui, esta é a casa deles e somos nós que tomamos conta destas pessoas. Tal como reivindicaríamos a intervenção do Estado se isto fosse com a nossa família, também temos que exigir que o Ministério da Saúde seja responsável e consciente para com estes idosos".
Agradecendo os donativos de empresas que já fizeram chegar à Misericórdia vários equipamentos de proteção, Álvaro Silva deixa um último apelo à sociedade civil, referindo que "viseiras já há muitas" na casa, mas que "continuam a faltar máscaras, fatos de proteção, luvas, desinfetantes, etc.".
O novo coronavírus responsável pela pandemia da covid-19 foi detetado na China em dezembro de 2019 e já infetou mais de 1,2 milhões de pessoas em todo o mundo, das quais mais de 59.000 morreram. Ainda nesse universo de doentes, mais de 211.000 recuperaram.
Em Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 02 de março, o último balanço da Direção-Geral da Saúde indicava 10.524 infeções confirmadas. Desse universo de doentes, 638 morreram, 1.075 estão internados em hospitais, 75 recuperaram e os restantes convalescem em casa ou noutras instituições.
A 17 de março, o Governo declarou o estado de calamidade pública no concelho de Ovar, que a partir do dia seguinte ficou sujeito a cerco sanitário com controlo de fronteiras e suspensão de toda a atividade empresarial não afeta a bens de primeira necessidade. A medida foi entretanto prolongada até 17 de abril.
O país está desde as 00h00 de 19 de março em estado de emergência, o que vigora até às 23:59 do dia 17 de abril. A medida proíbe toda a população de circular fora do seu concelho de residência entre 9 e 13 de abril, para desincentivar viagens no período da Páscoa.
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