Dezenas exigem proteção de leite e carne nacionais.
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Largas dezenas de tratores partiram cerca das 11h00, desta segunda-feira, de Vilar, Vila do Conde, numa marcha lenta em direção a Matosinhos, Porto, exigindo medidas para proteger a produção nacional de leite e de carne. Durante a hora de almoço, os produtores bloquearam a Circunvalação no sentido Porto-Matosinhos. Por volta das 16h15 estavam a congestionar o trânsito no principal acesso ao Porto, junto a um hipermercado Continente.
Entregaram também ao responsável de um supermercado do grupo Jerónimo Martins, em Matosinhos, um documento solicitando "medidas urgentes" para salvar o setor, num protesto contra "as práticas abusivas da grande distribuição".
O supermercado do grupo Jerónimo Martins fica situado na estrada Exterior da Circunvalação, a algumas centenas de metros das instalações da Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, onde aos manifestantes se juntou um caravana de tratores - 300 segundo a organização -, que saíram de Vilar, Vila do Conde, em marcha lenta em direção a Matosinhos.
Frente ao supermercado, João Dinis, da direção da Confederação Nacional de Agricultura (CNA), que considerou já que esta é "a maior [manifestação] de sempre do setor no Porto", defendeu aos microfones do carro de som que encabeça a manifestação a reposição do sistema de quotas leiteiras na União Europeia e a redução das contribuições dos produtores para a Segurança Social como medidas urgentes para impedir o colapso do setor.
Produtores em marcha lenta pela EN13
Bruxelas aceita redução de produção de leite
A Comissão Europeia está disponível para autorizar a redução temporária da produção de leite sob uma base voluntária e um aumento dos apoios ao armazenamento, anunciou esta segunda-feira o comissário europeu para a Agricultura, Phil Hogan.
Hogan, que participa no Conselho de Ministros da Agricultura da União Europeia (UE), adiantou estar preparado para autorizar, "numa base temporária", acordos voluntários no setor dos laticínios para reduzir a produção, perante "uma situação de um desequilíbrio grave no mercado".
O comissário salientou que os detalhes têm ainda que ser finalizados, esperando poder apresentar uma proposta aos Estados-membros "muito em breve".
Distribuição demarca-se de problemas
A Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) demarcou-se das dificuldades que afetam o setor da produção de leite e suínos, salientando que a atual conjuntura só pode ser resolvida com a intervenção das autoridades nacionais e europeias.
A APED reagiu, num comunicado, lembrando que a atual conjuntura "tem origem em questões relacionadas com o funcionamento do mercado nacional e europeu que só podem ser resolvidas com a intervenção das autoridades nacionais e europeias".
A associação, que representa 129 empresas do retalho alimentar e não alimentar e do comércio grossista, salientou ainda que a "distribuição não é o único 'player' relevante na formação dos preços", apontando outros fatores como a relação entre a oferta e a procura, conjuntura europeia desfavorável, o "fortíssimo" impacto do embargo russo na produção nacional e o fim das quotas leiteiras.
A APED afirma-se ainda "disponível para dialogar com os produtores e apoiar a produção nacional" e garante que cumpre a legislação em vigor quer a nível nacional, quer comunitário.
Dezenas na EN 13
As largas dezenas de tratores estão a percorrer a EN 13, em direção ao Porto, numa fila de vários quilómetros, que está a condicionar a circulação rodoviária.
Organizada pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e pela Associação Portuguesa de Produtores de Leite e Carne (APPLC), em conjunto com outras organizações da lavoura, a iniciativa promete ser "a maior alguma vez realizada pelo setor em Portugal" e prevê ainda protestos junto a dois hipermercados.
O objetivo é "assinalar reclamações específicas perante as práticas comerciais abusivas" de que os produtores acusam as grandes superfícies comerciais e que, garantem, "têm contribuído para a grave crise que arrasa a pecuária nacional", nomeadamente os produtores de leite e carne.
Produtores apelam ao consumo de produtos nacionais
Em declarações à Lusa, o produtor de leite Francisco Cunha disse que só não abandonou ainda a atividade porque não quer "destruir o trabalho que vem do tempo" dos seus avós.
Detentor de uma "exploração média", de 25 hectares, em Vila do Conde, que produz anualmente cerca de um milhão de litros de leite, Francisco Cunha critica "as restrições do mercado" e o baixo preço que é pago à produção por cada litro de leite.
Para Francisco Cunha, que desde 2001, assumiu o controlo da exploração familiar, defende que "indústria e distribuição deviam sentar-se à mesma mesa e distribuir as margens mais corretamente".
Todos os tratores ostentam a bandeira portuguesa e têm afixados cartazes de protesto com mensagens como "Temos um défice de 200 milhões de euros em produtos lácteos. Porquê?", "O Governo não pode ignorar a nossa situação", "Obrigado a todos os que bebem leite nacional" e "Compre, prefira e exija português".
Ao longo do percurso é visível a presença de vários elementos e viaturas das autoridades policiais.
Os manifestantes dirigem-se à Direção Regional de Agricultura e Pescas do Norte, em Matosinhos, e pretendem levar ainda o protesto junto a dois hipermercados da zona.
A manifestação dos produtores de leite e carne coincide com a deslocação do ministro da Agricultura, Capoulas Santos, a Bruxelas para participar numa reunião dos ministros da Agricultura da União Europeia, que voltará a ter em cima da mesa o tema do leite e da carne suína, e segue-se a uma manifestação de suinicultores em Lisboa, na sexta-feira passada.
Fileira do leite e carne tem que "olhar internamente" e reestruturar-se
O docente do IPAM especialista em 'marketing' agroalimentar Rui Rosa Dias reconhece as dificuldades na base da manifestação de segunda-feira dos produtores de leite e carne, mas defende que cabe ao setor "olhar internamente" e reestruturar um modelo de governação esgotado.
"As reivindicações fazem sentido apenas na lógica do produtor-- e se fosse produtor juntar-me-ia à manifestação e levaria o meu trator - mas não fazem sentido nenhum na restante cadeia de valor, que é muito mais longa e complexa do que só produzir leite", afirmou Rui Rosa Dias.
Para o docente do IPAM - The Marketing School, do Porto, Portugal é "extremamente eficiente na produção de leite, mas essa eficiência chegou a um limite tal em que não é possível baixar mais custos continuando com o mesmo modelo de governação da estrutura da fileira".
"Temos fornecedores de matérias-primas, produtores de leite, recolhedores de leite, cooperativas agrícolas, indústria transformadora, distribuição e consumo. É uma cadeia de valor muito extensa e em cada elo desta cadeia há uma margem, porque toda a gente tem que ganhar dinheiro", explicou.
Convicto de que "estão 'players' [intervenientes] a mais nesta cadeia de valor", Rui Rosa Dias admite que "o produtor tem razão quando diz que o preço à produção nunca esteve tão baixo", mas defende que "é preciso, internamente, o setor olhar para si próprio e reestruturar o modelo de governação", não passando a solução pelo regresso às quotas, por subsídios públicos ou pela intensificação da produção.
E, não sendo a exportação atualmente uma alternativa - sobretudo num contexto marcado pelo embargo russo às exportações de produtos lácteos da União Europeia e pelo declínio do consumo de leite inteiro na China -, o docente universitário defende que "têm que ser os operadores a conquistar quota de mercado e a posicionar as suas marcas", apostando na inovação e na Investigação e Desenvolvimento (I&D) para encontrar "formas alternativas de dar valor à matéria-prima".
Para ilustrar a "falta clara e nítida de uma aposta em inovação" que considera haver atualmente no setor leiteiro nacional, Rui Rosa Dias refere o facto de 55% do leite produzido ser para consumo e só os restantes 45% servirem de base a produtos derivados do leite com mais valor acrescentado, como o queijo, a manteiga, o iogurte e as sobremesas lácteas.
Para o docente universitário - que durante sete anos foi diretor de 'marketing' da Agros e é autor do livro "Marketing Agroalimentar" - "mudar isto passa pela indústria e por estruturas setoriais de cúpula, como a Federação Nacional das Cooperativas de Leite e Laticínios (Fenalac) ou a Associação Nacional dos Industriais de Laticínios (ANIL), que poderiam liderar uma situação de pressão junto da indústria".
Já ao Governo português - a quem recorda que "estão muitas famílias em causa, porque o setor leiteiro emprega muita gente" - Rui Rosa Dias entende que "não restará outra alternativa senão discutir e seguir os pares da União Europeia na discussão de como apoiar o setor".
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