Pelo menos 16 imagens diferentes circulam em milhares de contas e páginas nas redes sociais.
Circula em milhares de contas e páginas nas redes sociais, com pelo menos 16 imagens diferentes associadas, mas é falsa a história da rapariga cigana que dançou a caminho das câmaras de gás num campo de extermínio nazi na Polónia.
Alegação: uma rapariga cigana dançou na fila que levava às câmaras de gás do campo de extermínio de Sobibór
Várias páginas no Facebook estão a partilhar a alegada história da "dança da menina", uma jovem cigana que "não devia ter mais de quinze anos" e que, algures em 1943, decidiu dançar enquanto estava "na fila que levava às câmaras de gás do campo de extermínio de Sobibor", na Polónia ocupada pelos nazis.
Numa das publicações em português, partilhada na página brasileira Estudos Históricos, conta-se que o "seu vestido estava rasgado, os pés descalços e feridos, mas antes de seguir adiante, ela se virou para os outros e sussurrou: 'olhem'. E então, começou a dançar" com "movimentos suaves, quase etéreos --- um gesto impossível de beleza no meio do horror."
O mesmo texto emotivo partilhado com os 280 mil seguidores da página descreve que "alguns prisioneiros choraram" e que "outros, por um instante, tentaram acompanhá-la". Acrescenta ainda que a história terá sido partilhada por um sobrevivente do holocausto que mais tarde lembrou que "ela dançou como se desafiasse a morte. E era exatamente isso."
Factos: a história é falsa e todas as "fotos" que circulam foram geradas por IA
Para verificar a autenticidade da imagem, a Lusa Verifica efetuou uma pesquisa reversa pela fotografia que acompanha as publicações e constatou que aquela imagem circula em várias páginas e grupos desde pelo menos o dia 11 de outubro, data em que uma história semelhante foi divulgada na página Threads of Time.
A mesma pesquisa reversa devolve outras imagens semelhantes associadas à mesma história, como estas duas versões diferentes partilhadas no final de julho pelas páginas History Timelines e Historic Voices, e em vários grupos no Facebook, onde a história é a mesma mas o cenário e a rapariga cigana são diferentes.
A análise atenta das várias versões permitiu concluir que são imagens geradas por inteligência artificial. Além de ser improvável que um momento como o descrito fosse registado em fotografia, na primeira foto, por exemplo, a rapariga só tem 4 dedos na mão esquerda, e há uma mulher com ténis, quando a maioria está descalça, entre outros pormenores típicos deste tipo de imagens geradas por IA.
Em alguns casos surgem versões distintas publicadas numa mesma página, em datas diferentes, ou na página History Timelines, que mais tarde publicou outras imagens além da já referida. Ao todo, a Lusa Verifica identificou 15 versões diferentes da alegada fotografia, bem como uma ilustração, todas geradas por IA e com milhares de partilhas.
Para confirmar a história propriamente dita, a Lusa Verifica questionou o Museu e Memorial de Sobibór, tendo obtido a confirmação de que "não existem provas ou documentação que comprovem a ocorrência deste episódio no campo de extermínio alemão de Sobibór", afirmou o chefe do departamento de educação.
Segundo Lukasz Kukawski, também não existem testemunhos de sobreviventes que atestem a história. "Não foi mencionada em nenhum dos depoimentos nem encontrámos relatos ou referências semelhantes nos registos históricos, pelo que as evidências disponíveis não sugerem que tal evento tenha ocorrido" no campo de extermínio nazi alemão que funcionou naquele local entre 1942 e 1943 e onde foram mortos cerca de 180 mil judeus, incluindo da comunidade sefardita holandesa, com nomes portugueses.
Este caso insere-se numa recente vaga de partilha de conteúdos falsos relacionados com o holocausto, incluindo imagens ficcionadas inspiradas em fotos e histórias reais, como tem vindo a ser denunciado desde maio pelo Museu e Memorial de Auschwitz-Birkenau, também na Polónia, ou mesmo de histórias e imagens totalmente falsas.
Este fenómeno é conhecido como "AI slop", termo em inglês para a proliferação nas redes sociais de conteúdos multimédia frequentemente pouco exatos e mesmo falsos gerados com ferramentas de IA apenas para gerar tráfego e receitas através dos programas de monetização das grandes plataformas.
Desde maio, vários projetos de verificação de factos têm denunciado esta prática e casos semelhantes ao desta verificação, nomeadamente o Provereno.Media, da Estónia, e mais recentemente a BBC Verify, entre outros.
A Lusa Verifica questionou algumas das páginas que divulgaram as fotos e a história falsa alvo desta verificação de factos, incluindo a página brasileira Estudos Históricos, mas não obteve respostas. Algumas destas páginas cruzam-se com a rede internacional já identificada nas verificações de factos citadas.
Avaliação Lusa Verifica: Falso
São falsas as fotos e a história da rapariga cigana que em 1943 teria dançado enquanto estava a ser levada para as câmaras de gás nazis do campo de extermínio de Sobibór, na Polónia.
Ao contrário do que se conta nas redes, não existem testemunhos nem quaisquer outros registos sobre este alegado caso que continua a ser partilhado, mas que não passa de uma história falsa ilustrada por imagens geradas por inteligência artificial.
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