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Relação tóxica muda a vida de Teresa Caeiro

Diretor-geral editorial adjunto do CM volta a escrever sobre a ex-deputada. Cerimónias fúnebres são amanhã.

19 de agosto de 2025 às 23:34

No momento da trágica morte de Teresa Caeiro ninguém sente mais a dor da sua partida do que a família. Por isso, expresso os meus sentimentos. Mas como escreveu uma sábia artista: “Vemos, ouvimos e lemos, não podemos ignorar.”

A Teresa era uma mulher valorosa e gentil, a sua memória merece todo o respeito. E em honra dessa memória, devo-lhe mais do que uma homenagem, tenho o dever de não aceitar uma narrativa socialmente mais conveniente, porque é falsa.

Todas as pessoas amigas conheciam o seu drama. Houve uma relação tóxica na sua vida que lhe mudou mais do que a aparência e deixou marcas profundas no seu ânimo e afetou a sua saúde. Repito e espero que esta seja a última vez que me refiro a esta trágica história: a Teresa é uma vítima não contabilizada de violência doméstica em Portugal.

Num País fortemente marcado por uma cultura marialva, a violência doméstica é uma epidemia que está longe de ser erradicada. Desgraçadamente, todos os meses no Correio da Manhã damos notícias de vítimas mortais deste flagelo. Ainda há muitas outras vítimas que não morrem, mas sofrem para sempre com marcas profundas.

E ao contrário do que se possa pensar, este crime covarde é igualmente brutal em todos os estratos e classes sociais. Não é um assunto exclusivo de famílias pobres e desestruturadas. Da casa mais humilde ao endereço mais luxuoso abundam histórias de horror escondidas por quatro paredes.

Num País onde até há poucas décadas um homem podia matar a mulher sem consequências penais, se a encontrasse em flagrante delito de adultério, a sociedade ainda é demasiado tolerante com estes atos criminosos. Apesar de já ser um crime público, ainda prevalece o velho ditado: “Entre marido e mulher, não metas a colher.”

Não denunciei este caso de ânimo leve, para mim tratou-se de um imperativo ético. Não sou um cavaleiro andante, nem procuro nenhum tipo de vingança pessoal, mas a morte de Teresa provocou-me, além da dor de perder uma amiga, um profundo remorso por a ter travado num processo que ela ponderava. Nunca andei em ‘bicos de pés’, nem nunca procurei nenhum tipo de protagonismo. Acredito que o jornalista tem o dever de dar notícias, não ser protagonista delas. Mas estou de consciência tranquila. Nasci na Serra da Estrela, onde ainda se preza a honra. O bom-nome e a reputação são os bens mais preciosos que tenho. Não admito que ninguém coloque isso em causa.

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