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Victor Correia: "A repressão dos homossexuais deriva da incompreensão"

Investigador acaba de lançar 'História da Homossexualidade em Portugal'.

02 de junho de 2025 às 01:30

Já está nas livrarias e pretende preencher uma lacuna no mercado editorial português: Victor Correia lançou mãos à obra e, depois de uma investigação que lhe tomou três anos, escreveu, num ano, ‘A História da Homossexualidade em Portugal – Desde o Século XIII até ao Século XX’, que a Âncora Editora acaba de lançar. Ao longo de 600 páginas, faz-se o retrato do que foi ser-se homossexual no nosso país, desde uma Idade Média “relativamente tolerante, que até se divertia com o tema, através das Cantigas de Escárnio e Maldizer’”, até “à perseguição feroz movida pela Inquisição” a quem tinha relações sexuais com indivíduos do mesmo sexo. Foi, aliás, uma das “surpresas” desta investigação. “Surpreendeu-me a dureza das medidas inquisitórias contra as práticas homossexuais de homens e mulheres – ali não se perdoava”, admite o investigador, que diz ter ficado também surpreendido, mas pela positiva, com a forma como o tema foi retratado nas obras de arte portuguesas. “É delicioso decifrar os mitos homoeróticos presentes na produção artística nacional – de que aponto vários exemplos – assim como foi muito interessante perceber como a homossexualidade era praticada, às escondidas, nos meandros aristocráticos, entre os membros do clero ou mesmo em contextos burgueses fechados”, sublinha.

Claro que nestas páginas, além de se falar de homossexuais portugueses assumidos – como os artistas plásticos Cruzeiro Seixas e Mário Cesarinny – o autor também revela os nomes de homossexuais mais ou menos insuspeitos, como os reis portugueses D. João VI e D. Sebastião. Sobre D. Pedro, Victor Correia “não o declararia homossexual” mas defende que “seria bissexual”.

Outra ‘descoberta’ do autor nesta obra de fôlego é a forma “cruel como a homossexualidade foi reprimida pelos colonizadores portugueses ao chegarem a territórios onde se gozava de maior liberdade – como o eram o Brasil, a Índia ou Angola”. “A repressão dos homossexuais deriva da incompreensão do outro: as pessoas têm dificuldade em compreender aquilo que não sentem”, explica o investigador, acrescentando que a intolerância “tende a diminuir com o aumento da escolaridade e do nível de civilização de uma sociedade”. “Hoje há uma conceção de liberdade e de direitos individuais que não existiu sempre, mas foi conquistado. A sociedade civil já tem uma palavra a dizer sobre estas questões”, remata Victor Correia.

O caso do poeta Fernando Pessoa

Antes deste volume, Victor Correia assinou outro título que chamou a atenção: 'A Homossexualidade de Fernando Pessoa' (Edições Vieira da Silva, maio de 2022). Nessa obra 'mostra', através dos escritos do poeta, a tendência homossexual que Pessoa sempre reprimiu. Nesta 'História', deixa-nos com esta citação de Álvaro de Campos: "Divirtam-se com mulheres, se gostam de mulheres; divirtam-se de outra maneira, se preferem outra".

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