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Papa Pio XII

Pio XII: Papa da guerra que usou a arma do silêncio

Eleito Papa meses antes da II Guerra Mundial. Não fez referências à Alemanha Nazi durante os anos do conflito.

Eleito Papa meses antes da II Guerra Mundial. Não fez referências à Alemanha Nazi durante os anos do conflito.

09 de abril de 2025 às 08:00

Quinta-feira, 24 de agosto de 1939. “O perigo é iminente, mas ainda tem tempo. Nada se perde com a paz. Tudo pode ser perdido com a guerra. Que os homens voltem a compreender-se. Recomecem as negociações. Tratando com boa vontade e com respeito os direitos recíprocos, dar-se-ão conta de que as negociações sinceras e eficazes nunca está fechado um sucesso excelente”. O apelo de Pio XII, o 260º Papa da Igreja Católica, eleito poucos meses antes, não foi ouvido. Uma semana depois, a 1 de setembro, a Alemanha invadiu a Polónia, dado início à II Guerra Mundial.

Eugenio María Giuseppe Giovanni Pacelli ocupou o trono de Pedro entre 1939 e 1958. Presidiu aos destinos da Santa Sé durante o conflito que matou cerca de 60 milhões de pessoas, entre civis e militares, mas pouco ou nada disse durante esse período. Nas sete encíclicas que publicou nos seis anos de guerra, não há referências à Alemanha Nazi. Também os discursos que proferiu nesse tempo ignoraram o holocausto. Para uns, um silêncio comprometedor, para outros, um silêncio salvador.

D. Vicente Cárcel Ortí, historiador e sacerdote espanhol, autor do livro Pio XII, diz que o pontífice preferiu não confrontar os nazistas para não desencadear a raiva de Hitler e assim evitar que se intensificasse a perseguição aos judeus e católicos. “Escolheu a política do silêncio para salvar vidas”, garante. Certo é que o seu processo de beatificação, criticado pela comunidade judaica, continua em banho-maria.

Da I Guerra Mundial a Fátima 

A guerra tinha acabado há quase uma década, mas o mundo continuava instável. Se durante o conflito de 1939-1945 optou pelo silêncio, Pio XII era agora uma das vozes mais ativas e inconformadas da ‘guerra fria’. “É uma impressão comum que o principal fundamento, sobre o qual repousa o atual estado de relativa calma, é o medo. Cada um dos grupos em que a família humana está dividida tolera a existência do outro, porque ele mesmo não quer perecer. Evitando assim o risco fatal, ambos os grupos não coexistem, mas coexistem. Não é um estado de guerra, mas também não é paz: é uma calma fria”, escreveu, na véspera de Natal de 1954.

“Não vivemos um estado de guerra, mas também não é paz: é uma calma fria”
Papa Pio XII


Exatamente um ano depois, Giuseppe Pacelli voltou à carga. “Rejeitamos o comunismo como sistema social em virtude da doutrina cristã. Mas, ao mesmo tempo, admoestamos os cristãos da era industrial, a não se contentarem com um anticomunismo baseado no lema e na defesa de uma liberdade desprovida de conteúdo; mas, ao contrário, exortamo-los a construir uma sociedade em que a segurança do homem se baseie naquela ordem moral”, disse Pio XII, em mensagem radiofónica, onde apelava à “renúncia aos ensaios de armas nucleares”, à “renúncia à utilização de tais armas” e ao “controlo geral das armas”.

Papa Pio XII fez 200 mensagens de rádio
Papa Pio XII fez 200 mensagens de rádio FOTO: AP

Filho de advogado e irmão de jurista, ambos com ligações à Cúria Romana, Giuseppe Pacelli viveu os dramas da guerra mesmo antes de ser Papa. Nascido em Roma, a 2 de março de 1879, estudou na Universidade Gregoriana e no Pontifício Ateneu Romano de S. Apolinário, tendo-se formado em teologia. Ordenado sacerdote em 2 de abril de 1899, foi, anos mais tarde, já arcebispo, nomeado núncio apostólico em Munique (Alemanha), nos finais de I Guerra Mundial (1917). Aqui prestou assistência aos prisioneiros e à população faminta, devastada pelo conflito.     

Viu ‘milagre do sol’ quando a imagem de Nossa Senhora estava em Roma

Dezanove anos durou o pontificado de Pio XII (de 1939 a 1958) e embora nunca tenha visitado Portugal, está intimamente ligado ao nosso País. Em 1950, Pio XII assistiu ao mesmo fenómeno ocorrido a 13 de outubro de 1917, na Cova da Iria, presenciado por mais de 70 mil pessoas, e que ficou conhecido ‘milagre do sol’.

O facto foi contado pelo cardeal Frederico Tedeschini, no encerramento do Ano Santo em Fátima. Foi o próprio Sumo Pontífice quem o descreveu nestes termos: “Era o dia 30 de Outubro de 1950, antevéspera do dia, com tanta ânsia esperado por todo o mundo católico, da solene definição da Assunção de Maria Santíssima ao Céu. Pelas 4 horas da tarde, dava o costumado passeio nos jardins do Vaticano, lendo e estudando. (...) A certo momento, levantando os olhos dos papéis que tinha na mão, fui surpreendido por um fenómeno até então para mim nunca visto. O Sol, que estava bastante alto, aparecia como um globo opaco, amarelado, circulando a toda a volta de um halo luminoso que, porém, não impedia absolutamente nada de fixar atentamente o Sol, sem por isso sentir o mínimo incómodo. Diante estendia-se uma nuvenzinha ligeiríssima. O globo opaco movia-se, no exterior, lentamente girando e deslocando-se da esquerda para a direita e vice-versa. Mas no interior viam-se com toda a clareza e sem interrupção fortíssimos movimentos. Repetiu-se o mesmo fenómeno no dia 31 de Outubro e 18 de Novembro. Desde então, nunca mais”.

As observações relatadas por Pio XII ocorreram numa altura em que a imagem da Virgem Peregrina de Fátima estava em Roma, num convento de religiosas.

Militares respeitaram Vaticano

Durante a Segunda Guerra Mundial, o Vaticano, sob a liderança de Pio XII, adotou uma política de neutralidade e não foi alvo de qualquer ação militar. Apesar de Roma ter sido ocupada pela Alemanha nazi a 10 de setembro de 1943 e pelos Aliados a 4 de junho de 1944, a Cidade do Vaticano permaneceu intocada. Durante o conflito, o Vaticano abrigou milhares de judeus e outros perseguidos. 

Vaticano é o país mais pequeno 

O Vaticano é o país mais pequeno do mundo, com uma área de 44 hectares. Apesar de seu tamanho diminuto, é o centro da Igreja Católica e abriga uma assinalável riqueza cultural e histórica, incluindo a Basílica de São Pedro e os Museus do Vaticano. É cercado por muros que começaram a ser construídos no século IX, durante o pontificado do Papa Leão IV, sendo, por isso, conhecidos como Muralhas Leoninas. 

Vaticano já foi alvo de assaltos

O mais famoso foi o roubo de documentos raros de Miguel Ângelo no século XVI. Mas recentemente, em 2014, uma relíquia de João Paulo II foi roubada de uma igreja nos arredores de Roma. E, em 2024, desapareceu um manuscrito do século XVII, relacionado com a decoração do Baldaquino de São Pedro. 

Até hoje houve 266 líderes da Igreja

O número não é consensual entre os estudiosos, mas é o que o Vaticano apresenta como oficial: Francisco é o 266º Papa da Igreja Católica. No entanto, nos períodos mais conturbados, como os primeiros séculos (até pela escassez de registos) ou a Idade Média, há grande controvérsia em relação aos nomes que constam da lista oficial.   

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