Eleito Papa meses antes da II Guerra Mundial. Não fez referências à Alemanha Nazi durante os anos do conflito.
Eleito Papa meses antes da II Guerra Mundial. Não fez referências à Alemanha Nazi durante os anos do conflito.
Quinta-feira, 24 de agosto de 1939. “O perigo é iminente, mas ainda tem tempo. Nada se perde com a paz. Tudo pode ser perdido com a guerra. Que os homens voltem a compreender-se. Recomecem as negociações. Tratando com boa vontade e com respeito os direitos recíprocos, dar-se-ão conta de que as negociações sinceras e eficazes nunca está fechado um sucesso excelente”. O apelo de Pio XII, o 260º Papa da Igreja Católica, eleito poucos meses antes, não foi ouvido. Uma semana depois, a 1 de setembro, a Alemanha invadiu a Polónia, dado início à II Guerra Mundial.
Eugenio María Giuseppe Giovanni Pacelli ocupou o trono de Pedro entre 1939 e 1958. Presidiu aos destinos da Santa Sé durante o conflito que matou cerca de 60 milhões de pessoas, entre civis e militares, mas pouco ou nada disse durante esse período. Nas sete encíclicas que publicou nos seis anos de guerra, não há referências à Alemanha Nazi. Também os discursos que proferiu nesse tempo ignoraram o holocausto. Para uns, um silêncio comprometedor, para outros, um silêncio salvador.
D. Vicente Cárcel Ortí, historiador e sacerdote espanhol, autor do livro Pio XII, diz que o pontífice preferiu não confrontar os nazistas para não desencadear a raiva de Hitler e assim evitar que se intensificasse a perseguição aos judeus e católicos. “Escolheu a política do silêncio para salvar vidas”, garante. Certo é que o seu processo de beatificação, criticado pela comunidade judaica, continua em banho-maria.
A guerra tinha acabado há quase uma década, mas o mundo continuava instável. Se durante o conflito de 1939-1945 optou pelo silêncio, Pio XII era agora uma das vozes mais ativas e inconformadas da ‘guerra fria’. “É uma impressão comum que o principal fundamento, sobre o qual repousa o atual estado de relativa calma, é o medo. Cada um dos grupos em que a família humana está dividida tolera a existência do outro, porque ele mesmo não quer perecer. Evitando assim o risco fatal, ambos os grupos não coexistem, mas coexistem. Não é um estado de guerra, mas também não é paz: é uma calma fria”, escreveu, na véspera de Natal de 1954.
Exatamente um ano depois, Giuseppe Pacelli voltou à carga. “Rejeitamos o comunismo como sistema social em virtude da doutrina cristã. Mas, ao mesmo tempo, admoestamos os cristãos da era industrial, a não se contentarem com um anticomunismo baseado no lema e na defesa de uma liberdade desprovida de conteúdo; mas, ao contrário, exortamo-los a construir uma sociedade em que a segurança do homem se baseie naquela ordem moral”, disse Pio XII, em mensagem radiofónica, onde apelava à “renúncia aos ensaios de armas nucleares”, à “renúncia à utilização de tais armas” e ao “controlo geral das armas”.
Filho de advogado e irmão de jurista, ambos com ligações à Cúria Romana, Giuseppe Pacelli viveu os dramas da guerra mesmo antes de ser Papa. Nascido em Roma, a 2 de março de 1879, estudou na Universidade Gregoriana e no Pontifício Ateneu Romano de S. Apolinário, tendo-se formado em teologia. Ordenado sacerdote em 2 de abril de 1899, foi, anos mais tarde, já arcebispo, nomeado núncio apostólico em Munique (Alemanha), nos finais de I Guerra Mundial (1917). Aqui prestou assistência aos prisioneiros e à população faminta, devastada pelo conflito.
1 / 2
Dezanove anos durou o pontificado de Pio XII (de 1939 a 1958) e embora nunca tenha visitado Portugal, está intimamente ligado ao nosso País. Em 1950, Pio XII assistiu ao mesmo fenómeno ocorrido a 13 de outubro de 1917, na Cova da Iria, presenciado por mais de 70 mil pessoas, e que ficou conhecido ‘milagre do sol’.
O facto foi contado pelo cardeal Frederico Tedeschini, no encerramento do Ano Santo em Fátima. Foi o próprio Sumo Pontífice quem o descreveu nestes termos: “Era o dia 30 de Outubro de 1950, antevéspera do dia, com tanta ânsia esperado por todo o mundo católico, da solene definição da Assunção de Maria Santíssima ao Céu. Pelas 4 horas da tarde, dava o costumado passeio nos jardins do Vaticano, lendo e estudando. (...) A certo momento, levantando os olhos dos papéis que tinha na mão, fui surpreendido por um fenómeno até então para mim nunca visto. O Sol, que estava bastante alto, aparecia como um globo opaco, amarelado, circulando a toda a volta de um halo luminoso que, porém, não impedia absolutamente nada de fixar atentamente o Sol, sem por isso sentir o mínimo incómodo. Diante estendia-se uma nuvenzinha ligeiríssima. O globo opaco movia-se, no exterior, lentamente girando e deslocando-se da esquerda para a direita e vice-versa. Mas no interior viam-se com toda a clareza e sem interrupção fortíssimos movimentos. Repetiu-se o mesmo fenómeno no dia 31 de Outubro e 18 de Novembro. Desde então, nunca mais”.
As observações relatadas por Pio XII ocorreram numa altura em que a imagem da Virgem Peregrina de Fátima estava em Roma, num convento de religiosas.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o Vaticano, sob a liderança de Pio XII, adotou uma política de neutralidade e não foi alvo de qualquer ação militar. Apesar de Roma ter sido ocupada pela Alemanha nazi a 10 de setembro de 1943 e pelos Aliados a 4 de junho de 1944, a Cidade do Vaticano permaneceu intocada. Durante o conflito, o Vaticano abrigou milhares de judeus e outros perseguidos.
O Vaticano é o país mais pequeno do mundo, com uma área de 44 hectares. Apesar de seu tamanho diminuto, é o centro da Igreja Católica e abriga uma assinalável riqueza cultural e histórica, incluindo a Basílica de São Pedro e os Museus do Vaticano. É cercado por muros que começaram a ser construídos no século IX, durante o pontificado do Papa Leão IV, sendo, por isso, conhecidos como Muralhas Leoninas.
O mais famoso foi o roubo de documentos raros de Miguel Ângelo no século XVI. Mas recentemente, em 2014, uma relíquia de João Paulo II foi roubada de uma igreja nos arredores de Roma. E, em 2024, desapareceu um manuscrito do século XVII, relacionado com a decoração do Baldaquino de São Pedro.
O número não é consensual entre os estudiosos, mas é o que o Vaticano apresenta como oficial: Francisco é o 266º Papa da Igreja Católica. No entanto, nos períodos mais conturbados, como os primeiros séculos (até pela escassez de registos) ou a Idade Média, há grande controvérsia em relação aos nomes que constam da lista oficial.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.