Mondlane nunca aceitou os resultados oficiais das eleições gerais de 9 de outubro de 2024 e protagonizou a maior contestação popular da democracia multipartidária moçambicana.
O político Venâncio Mondlane, candidato presidencial nas eleições de 2024, afirma que um ano depois Moçambique está numa "situação calamitosa" e admite voltar a concorrer, em 2029, se o Anamola, partido que criou, assim decidir.
"Bom, nós agora temos um partido que está aprovado, que já realizou duas reuniões estatutárias importantes, a reunião da Comissão Executiva e também a reunião do Conselho Nacional", diz, em entrevista à Lusa, recordando o lançamento, em setembro, do Aliança Nacional para um Moçambique Livre e Autónomo (Anamola), partido que fundou e a que preside, interinamente, até ao congresso de 20 de junho de 2026.
"É esse congresso que tem a responsabilidade, primeiro, de eleger o líder do partido e, depois, também, naturalmente, definir a estratégia política e eleitoral do partido. Então, nessa altura, vamos ver o que os membros do partido vão decidir sobre isso", diz.
Um ano após as eleições gerais de 09 de outubro de 2024, Venâncio Mondlane, que nunca aceitou os resultados oficiais e protagonizou a maior contestação popular da democracia multipartidária moçambicana, afirma que os "níveis de democracia e de direitos humanos estão no estágio mais problemático da história" do país.
"O país agora está praticamente falido, à beira de estar falhado. Em matérias de indicadores sociais, são à vista. Educação, saúde, é uma desgraça completa", critica, afirmando: "Moçambique, um ano depois das eleições, eu penso que está numa situação verdadeiramente calamitosa. Portanto, está a resvalar cada vez mais para o fundo do precipício. Todos os indicadores mostram que realmente o país está em deterioração permanente".
As candidaturas a Presidente da República podem ter o apoio dos partidos políticos, como foi o caso do Podemos, até então extraparlamentar e que se tornou no maior partido da oposição após apoiar, em 2024, a candidatura presidencial de Venâncio Mondlane, relação que terminou este ano, com o político a avançar para a criação do seu partido.
Em julho, o político, que entretanto também tomou posse como Conselheiro de Estado, foi acusado pelo Ministério Público moçambicano de cinco crimes, no âmbito das manifestações pós-eleitorais, incluindo incitamento à desobediência coletiva e instigação ao terrorismo, que o próprio nega.
"Neste momento tenho advogados voluntários de Portugal, de Angola e moçambicanos que estão a fazer um trabalho belíssimo. Fizeram contestação àquela acusação de crimes contra a segurança do Estado, fizeram também contra esses processos cíveis de indemnizações absurdas, portanto, fizeram um trabalho lindíssimo. Eu conto que esta equipa possa fazer um trabalho também bom para casos de tentativas de me afastar [da candidatura em 2029] usando a lei, ou usando de forma manipulada a lei", respondeu ainda.
Moçambique deverá realizar eleições autárquicas em 2028 e eleições gerais em 2029.
Ainda assim, diz que as "manobras existem e não são de hoje", garantindo que a preparação passa por ter "uma equipa de advogados bem forte": "Eles sempre tiveram problemas comigo como um oponente. Lembrar que em 2018 eu queria concorrer às eleições autárquicas da cidade de Maputo [concorreu em 2023, pela Renamo], fizeram tudo para me afastar porque sabiam que não tinham condições de me ganhar. Portanto, isso já tem precedentes. Isso é histórico".
Cerca de 400 pessoas morreram em resultado de confrontos com a polícia, conflitos pós-eleitorais que cessaram após encontros entre Mondlane e o Presidente moçambicano, Daniel Chapo, em 23 de março.
Moçambique iniciou em 06 de outubro a auscultação pública a nível local sobre o diálogo político para a pacificação do país, que prevê, entre outras matérias, um novo modelo eleitoral e a revisão da Constituição da República.
Daniel Chapo promulgou em abril a lei relativa ao Compromisso Político para um Diálogo Nacional Inclusivo, aprovada dias antes no parlamento, com base no acordo entre o Presidente moçambicano e os partidos políticos, assinado em 05 de março, para ultrapassar a violência e agitação social que se seguiu às eleições gerais.
O partido de Venâncio Mondlane, contudo, ficou de fora do processo.
"Não é um diálogo, é um simulacro de um diálogo. A força mais importante que esteve na origem de todos os protestos que decorreram no ano passado, que foram os maiores protestos de toda a história democrática do país, estão a ser excluídos deste mesmo diálogo. É esta a realidade que nós temos", criticou o político.
Em 23 de dezembro, dois meses e meio após a votação, o Conselho Constitucional proclamou Daniel Chapo vencedor da eleição presidencial, com 65,17% dos votos nas eleições gerais de 09 de outubro, seguindo-se Venâncio Mondlane, com 24%, mas que nunca reconheceu os resultados.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.