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Luís Campos Ferreira

Luís Campos Ferreira

A anormalidade é o novo normal

28 de março de 2024 às 00:30

Depois de uma coisa acontecer é fácil dizer que se estava mesmo a ver que aquilo ia acontecer. Não, ninguém estava a ver que aquilo ia acontecer, ninguém esperava que a eleição do Presidente da Assem- bleia da República viesse a constituir o primeiro acto da guerrilha política com que André Ventu- ra pretende marcar a legislatura que agora se inicia. Até porque o Chega tinha, aparentemente, o que queria para marcar o dia. Na verdade, a grande notícia de ontem poderia ter sido a eleição de um vice-presidente do Chega (e outro da Inicia- tiva Liberal) para a mesa da Assembleia da Re- pública, repondo-se assim a prática democrática do nosso parlamento, segundo a qual os quatro partidos mais votados indicam um vice-presidente, algo que não se verificou na anterior legislatura – aliás, Ventura, na sua maneira enviesada de colocar as coisas, disse logo que a eleição de Diogo Pacheco Amorim representava um “ajuste de contas”. Ora, havendo esse compromisso parlamentar – e apenas esse – entre a AD e o Chega, Ventura quis que os portugueses pensassem que o “não é não” de Luís Montenegro já não era assim tão definitivo nem terminante. E quis fazer de um entendimento meramente funcional o simulacro de um acordo político abrangente que anda há meses a pedinchar ao PSD. Foi lamentável ver o Partido Socialista e o resto da esquerda a alinharem que nem patinhos na patranha do Chega. As primeiras declarações de Pedro Nuno Santos no parlamento fizeram eco da narrativa de Ventura, ao dizer que na “primeira oportunidade” o PSD escolheu o Chega. O PS sabia perfeitamente o que estava em causa, mas não resistiu a insuflar mais uma vez André Ventura. Todos assistimos à anormalidade que se seguiu. Se há quem diga que o PSD deve retirar lições deste início de legislatura, eu acrescento que não é só o PSD. O PS também já devia ter aprendido que usar tacticamente o Chega para atingir o PSD nunca dá bons resultados. É evidente que um partido como o Chega não se dá bem com a normalidade democrática, porque a normalidade democrática tem regras que o Chega se sente desobrigado de cumprir. Daí não ter sequer pestanejado ao tentar bloquear o funcionamento do parlamento. Assim como não se dá bem com a consistência, a coerência ou a verdade. Mas já to- dos perceberam que isso não significa que pode ser simplesmente ignorado, seja pelos restantes partidos representados na AR seja pelo governo de Luís Montenegro. Quer se goste quer não se goste, o Chega faz parte da equação democrática, e todos têm de lidar com isso. A anormalidade do Chega vai ser, por estes dias, o novo normal.

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