Antigamente, quando tínhamos sede, e em podendo, bebíamos. Quando queríamos água, bebíamos água. O meu avô, administrador de quintas do Douro, e que sofria amargamente com o Verão e as suas canículas, tinha um mapa mental de chafarizes e fontanários a que recorria nos seus passeios campestres sempre que saía do Porto. Infelizmente, eram lugares que mal conhecia, ao fundo de pomares encostados aos vinhedos do Pinhão ou de Barca d’Alva, entre fraguedos escuros e húmidos que resistiam ao calor, ou perto das velhas casas de cantoneiros nas estradas do Alto Minho. O velho Doutor Homem, meu pai, que era um ‘dandy’ urbano, respeitava aquela excentricidade, mas ele não se aventurava pelos campos, lagos e montanhas, que achava úteis como cenário de Turner, Gainsborough ou Constable, os pintores de que tinha algumas cópias no seu escritório – chafarizes e fontanários eram coisas de que tinha conhecimento pela literatura pastoril que, aliás, detestava. Dessedentar-se significava tomar uma bebida vespertina, obrigar-se a beber água, sentar-se a uma mesa. Ele não conhecia os mistérios actuais da “necessidade de hidratação” e acharia um exagero absurdo a quantidade de pessoas que não sai de passeio sem levar “a garrafinha de água”. As minhas sobrinhas-bisnetas levam garrafinhas de água para todo o lado, como se fossem exploradoras munidas de cantil. Mais sofisticadas do que a garrafa de “Água de Melgaço” que hoje, infelizmente, já se não encontra com facilidade, as suas garrafas são pequenas botelhas coloridas munidas de palhinha, aspersor, tampa, asa, bolsa para transporte – e dizem-me que não sobreviveriam sem aquele hidratante a que dão nomes patuscos que aqui não repito.
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