Ex-selecionador nacional de futebol bate a porta em divergência com o líder da concelhia do PSD de Gaia. Direção nacional "não confirma" desistência.
António Oliveira, o nome indicado pelo PSD para concorrer à presidência da Câmara de Gaia nas próximas autárquicas, desistiu da candidatura por divergências com o líder da concelhia do PSD de Gaia, Cancela de Moura, apurou o CM. A decisão foi tomada esta sexta-feira, porém, ao CM, a direção nacional diz que "não confirma" a desistência do ex-selecionador nacional de futebol ainda que reconheça "dificuldades de relacionamento" com a estrutura local.
Numa carta aberta aos militantes do PSD e a que o CM teve acesso (e que pode ler na íntegra no final do texto), António Oliveira justifica a razão da sua saída: "Ao longo de três meses fui sujeito a pressões, intimidações e ameaças. Tentaram impor-me o pior da ‘mercearia partidária’ e tentaram envolver-me nas mais inacreditáveis negociatas de lugares. Enfim, quiseram obrigar-me a empregar os beneficiários do rendimento mínimo da política. Não conheço este PSD que, em Gaia, está prisioneiro de quem só lhe faz mal, para fazer bem a si próprio. Não quis acreditar que fosse possível fazer política com base nos piores princípios da espécie humana. Mas, aqui, em Gaia, no meu partido de sempre, é o que se passa (…) Hoje, com vergonha do que vi, com uma imensa dor de alma pelo que senti, tenho que dizer que: não quero, não posso e não aceito continuar a encabeçar esta candidatura. Isto não é uma desistência. Isto é uma questão de higiene".
Oliveira não quis "nomear responsáveis, culpados ou traidores", mas o CM sabe que no centro da discórdia está o líder da concelhia do PSD de Gaia, Cancela de Moura, que queria ser o número dois da lista do ex-selecionador, vontade que o antigo jogador do FCP recusou. A partir desse momento, a tensão subiu de tom até estalar com a desistência da candidatura de António Oliveira ao município de Gaia.
"Dr. Rui Rio não tem culpa do que se passou"
Sem sucesso, o CM tentou contactar o presidente da concelhia do PSD de Gaia, Cancela de Moura, e António Oliveira.
O nome do ex-selecionador nacional de futebol António Oliveira foi aprovado, na reunião da comissão política distrital alargada do PSD, que decorreu em 23 de março na Seroa, concelho de Paços de Ferreira. Aquando do anúncio, Rui Rio elogiou-lhe o "perfil adequado" para liderar a Câmara de Vila Nova de Gaia". Na altura, quando questionado sobre uma possível "promiscuidade" entre futebol e política, Rio respondeu que há 15 anos que Oliveira "nada tem a ver" com futebol. "Promiscuidade entre futebol e política é quando os decisores políticos têm ligações ao futebol e vão para lugares onde favorecem os seus clubes e associações, o que acontece muito", afirmou à data.
Leia na íntegra a carta aberta de António Oliveira:
"Há sensivelmente três meses, fui convidado pessoalmente pelo Dr. Rui Rio, presidente do PSD, para ser candidato à Câmara Municipal de Gaia.
Vila Nova de Gaia é a terra onde vivi muitos anos e onde tenho residência. Onde residem os meus filhos e os meus netos. É a cidade à qual entendi dar o meu contributo cívico e a minha dedicação pessoal.
O convite do PSD foi algo que muito me honrou. E que, após reflexão ponderada e face à ausência de quaisquer condições na elaboração do programa ou das listas concorrentes ao executivo municipal, tive o prazer de aceitar.
Tornei-me militante do PPD - Partido Popular Democrático em 1976, pela mão do Senhor José Maria Pedroto e sob a liderança de Francisco Sá Carneiro. Um partido de causas, de valores e de gente séria e decente. Ao longo de 45 anos de militância, participei na vida política sempre como militante de base, mas nunca precisei do PSD.
Sempre vivi do meu trabalho. Nunca dependi do Partido.
Mas também não sou ingénuo, distraído ou mal-informado. Nunca pensei, porém ,que a política e os partidos, quando se deixam apropriar por alguns, ainda que localmente, pudessem descer a um nível tão baixo e tão miserável.
Ao longo de três meses fui sujeito a pressões, intimidações e ameaças. Tentaram impor-me o pior da "mercearia partidária" e tentaram envolver-me nas mais inacreditáveis negociatas de lugares. Enfim, quiseram obrigar-me a empregar os beneficiários do rendimento mínimo da política.
Não conheço este PSD que, em Gaia, está prisioneiro de quem só lhe faz mal, para fazer bem a si próprio. Não quis acreditar que fosse possível fazer política com base nos piores princípios da espécie humana. Mas, aqui, em Gaia, no meu partido de sempre, é o que se passa.
Ao longo destes três meses, nunca vacilei, nunca negociei e nunca tremi. Hoje, com vergonha do que vi, com uma imensa dor de alma pelo que senti, tenho que dizer que: não quero, não posso e não aceito continuar a encabeçar esta candidatura.
Isto não é uma desistência. Isto é uma questão de higiene. Uma recusa de pôr os interesses de uns personagens à frente dos interesses dos 300.000 gaienses e pessoas que escolheram este grande concelho para fazer a sua vida.
Não vou nomear responsáveis, culpados ou traidores. Infelizmente são os mesmos que já vem a prejudicar o partido há anos demais.
Mas deixo uma palavra ao Dr. Rui Rio, a pessoa que me convidou para o desafio que abracei com todo o entusiasmo e com a maior das motivações:
Teria sido possível apresentar um excelente projecto para Vila Nova de Gaia, oferecer uma alternativa de governo aos cidadãos e levar a cabo uma campanha vencedora. Gaia Merece muito mais do que tem tido com estes executivos liderados pela atual maioria.
O Dr. Rui Rio não tem culpa do que se passou. Terá sido, como eu fui, uma vítima do aparelho.
Terá sido, como eu fui, traído por uma máquina que tudo faz por lugares, cargos e salamaleques.
Quase sem exceção, estamos a falar de gente sem nome, sem mérito e sem profissão.
Eu não preciso disto para sentir que dou um contributo à sociedade.
Eu não preciso disto para agradecer ao meu país tudo o que ele foi capaz de me dar.
Eu não preciso desta política. Com certeza encontrarei outros projetos de participação cidadã, talvez até em Gaia, em que possa saudavelmente ter um papel pleno e sério.
Preciso muito mais de sentir e de ser fiel aos meus valores.
Preciso muito mais de não transigir na minha dignidade."
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