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"Nunca verão em mim sinal de hostilidade": Aguiar-Branco garante que "a democracia não se salva, constrói-se"

Presidente foi eleito, esta terça-feira, com 202 votos a favor.

03 de junho de 2025 às 17:01

O recém eleito presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, garantiu, esta terça-feira, que nunca apresentará um "sinal de hostilidade" para com nenhum deputado no plenário. Aguiar-Branco realçou ainda que "a democracia não se salva, constrói-se".

O presidente começou por agradecer o voto de confiança "com consciência do desafio e da responsabilidade que esse voto comporta".

"A instabilidade internacional que vivemos na economia, na defesa coloca em risco valores que dávamos como garantidos: a democracia e a liberdade", afirmou Aguiar-Branco.

Lembrando a atual composição do hemiciclo, Aguiar-Branco afirma que tem "uma das legislaturas mais exigentes da nossa democracia". 

"Temos muitos deputados estreantes e um conjunto de geometrias variáveis e de novos temas, que desafiam tudo o que julgávamos saber sobre o funcionamento das nossas instituições. Por causa disto, e muito mais, temos pela frente uma legislatura exigente. Uma das legislaturas mais exigentes da nossa democracia - exigente para quem dirige os trabalhos, exigente para cada um dos senhores deputados", sustentou.

"Seremos equidistantes e respeitadores de todos os eleitos", prometeu o presidente, explicando que só assim se respeita a vontade popular "expressa em eleições livres, diretas e universais que em 51 anos nunca foram postas em causa".

Aguiar-Branco distinguiu o seu papel como deputado e como presidente da Assembleia da República. Por um lado, enquanto deputado, Aguiar-Branco tem opiniões, ideais políticos e militâncias partidárias. Por outro, enquanto presidente, guardará reserva das opiniões, realçando o dever de garantir que todas as opiniões são ouvidas.

Neste contexto, Aguiar-Branco advogou que lhe cabe "garantir que nenhum deputado se sinta intimidado no legítimo exercício do seu mandato". 

"Nunca verão em mim, como deputado, como presidente [da Assembleia da República] ou simplesmente como pessoa, um sinal de hostilidade ou agressividade para com qualquer outro deputado ou senhora deputada, independentemente do seu partido, do que diga ou do que pense. Não apenas por dever constitucional ou regimental do cargo, mas porque continuo a acreditar profundamente que o respeito, a cortesia e a urbanidade são elementos fundamentais para a vida em sociedade", acentuou. 

Na sua intervenção, após ser reeleito presidente do parlamento, o antigo ministro social-democrata assinalou a "feliz coincidência" de a XVII Legislatura se iniciar um dia depois dos 50 anos da tomada de posse da Assembleia Constituinte.

"Parece uma miragem distante que 250 deputados, de sete diferentes partidos, se tenham sentado nesta mesma sala e conseguido chegar a acordo sobre a forma como as nossas instituições iriam funcionar daí em diante", apontou.

O presidente da Assembleia da República observou então que também em 1975 não se podia dizer que "faltasse polarização ao debate político" em Portugal, "nem tão pouco divergências, ou antagonismo entre partidos, ideias ou deputados".

"Mesmo assim fizeram-no. Há 50 anos esses 250 deputados constituintes, de sete diferentes partidos, foram capazes de ver além das diferenças, foram capazes de encontrar denominadores comuns e de escrever, em conjunto, uma constituição de raiz", lembrou José Pedro Aguiar-Branco.

Por isso, na sua perspetiva, face à dimensão do que foi alcançado nessa época, entre 1975 e 1976, "qualquer desafio que se possa enfrentar nos próximos quatro anos será sempre menor do que esse".   

"O que me leva a uma conclusão óbvia: O consenso é possível, continua a ser possível. Sermos capazes de superar esses desafios, sermos capazes de encontrar os nossos denominadores comuns, é o que os portugueses esperam de nós. Melhor dito: é o que exigem de nós", reforçou.

Antes desta mensagem sobre a necessidade de consensos no atual panorama político, apesar da atual composição fragmentada do parlamento, José Pedro Aguiar-Branco referiu-se também de forma detalhada às questões da tolerância perante divergências e da urbanidade no debate político.  

José Pedro Aguiar-Branco realçou então que acredita que "o prestígio do parlamento e da função de deputado carece do reconhecimento na sociedade como um bem maior do regime democrático".

Para o antigo ministro social-democrata, "a democracia não se salva, nem se defende, constrói-se".

"E constrói-se aqui, nesta sala. Não com proclamações mais ou menos inflamadas ou meritórias vindas das diferentes bancadas mas com as propostas que apresentamos, com as aprovações e rejeições que votamos", defendeu.

José Pedro Aguiar-Branco deixou ainda uma mensagem dirigida aos outros órgãos de soberania, "renovando o compromisso de uma relação de lealdade institucional e de respeito democrático".

"É isso, também, que o país espera de nós", acrescentou.

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