Sofia Garcia
JornalistaO julgamento do processo cível em que as famílias dos seis jovens que morreram durante uma praxe na praia do Meco em 2013 reclamam indemnizações no valor global de 1,3 milhões de euros, arrancou esta terça-feira no Tribunal de Setúbal.
A defesa das famílias dos jovens, que responsabilizam João Gouveia pela tragédia, sustenta que, "além da intervenção dos réus - o 'dux' João Gouveia e a COFAC - Cooperativa de Formação e Animação Cultural, CRL (Universidade Lusófona) -, estão em causa o funcionamento da organização denominada COPA [Comissão Oficial de Praxes Académicas] no seio da ULHT [Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias] e atividades praxistas levadas a cabo ao longo dos anos".
Para a defesa, estão também em causa as atividades praxistas levadas a cabo por João Gouveia durante o fim de semana de 13 e 14 de dezembro de 2013, que culminaram com a morte dos seis jovens, bem como os "elevados danos sofridos" pelos seus pais
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João Gouveia disse ao juiz que aquando das mortes era Dux há um ano apenas, tendo ido a votos com uma das vítimas, Carina Sanchez, que também concorria a Dux. João Gouveia teve mais votos e tornou-se Dux.
Conta que tinha como funções garantir organização das praxes e restantes atividades académicas e que o fim de semana fatídico servia para combinar e tratar do Enterro do Caloiro e outras atividades e eventos académicos da Lusófona.
No fim de semana, Carina Sanchez, tratou de encontrar alojamento no Meco. O Tiago Campos tratou da alimentação. "Todos tínhamos funções e tarefas para garantir aquele fim de semana" "quando chegámos à casa no Meco jantámos conversámos sobre o objetivo daquele fim de semana", disse em tribunal.
Juiz questiona: "Nessa noite não houve jogos nem tarefas?"
João responde: "Sim, é possível que tenha havido".
O Dux confessa que na noite que chegaram a casa em Aiana de Cima, no Meco, todos ingeriram álcool. Vinho, amêndoa amarga, cerveja e wisky foram as compras feitas pelos jovens.
Admite ainda que beberam bebidas de penalti, na primeira noite.
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O único sobrevivente da tragédia diz que no segundo dia em que estiveram no Meco foram para uma zona de descampado fazer algumas atividades de praxe.
João Gouveia revela que partiu de Tiago Campos a ideia de rastejar e rebolar no chão num curto período de tempo: "O Tiago é que despoletou essa ideia de fazer X coisa em X segundos. Rebolar e rastejar de uma ponta à outra do sitio onde estávamos em X minutos", diz. "E eu alinhei", acrescenta.
Diz que a ideia de ir passear na noite fatídica foi das vítimas Tiago e Catarina. Nessa noite, já na praia do Meco, pouco antes do acidente "estava a ficar frio e a ideia era irmos embora"
Primeira revelação sobre o momento da tragédia
"Levámos com uma onda lateral, de lado, e do que me recordo fui empurrado para a zona de rebentação. Lembro-me de não ter pé e de começar a levar com todas as outras ondas em jeito de máquina de lavar", afirma João.
Juiz questiona: "Como conseguiu salvar-se?"
"Não sei se há uma resposta para isso. Não sei se me desenvencilhei. Sei que consegui livrar me da capa que tinha ao pescoço", afirma o único sobrevivente da tragédia.
"Tentei puxar a mão da Carina e fiquei mais dentro do mar", acrescenta.
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João Gouveia revela que foi acompanhado "algumas semanas por psicólogos".
João garante ainda em tribunal que ninguém era obrigado a beber. No entanto, advogado da famílias alerta para uma troca de SMS na fatídica noite entre Carina e João Gouveia nas quais o Dux dizia "Hora do penalti" e segundos depois questiona "Já está?!".
Advogado das seis famílias questiona sobre se os jovens teriam pedras amarradas às pernas, como chegou a ser falado.
"Isso é totalmente mentira", diz Dux.
A advogada do arguido esclarece entretanto com a juiz que as testemunhas que inicialmente disseram ter visto os jovens com pedras amarradas já haviam desmentido.
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João Gouveia que já confessou que ainda tocou na mão de Carina quando entraram no mar, revela agora que ouviu uma das vítimas a pedir socorro.
"Ouvi a voz da Joana a pedir socorro, depois de ter sido arrastada", revela o Dux.
Penso que consegui ajudar a esclarecer.
Dux revela que cerca de um mês após as mortes encontrou-se com a mãe de Tiago Campos e acredita que ajudou a família: "Penso que consegui ajudar a esclarecer. Acredito que nunca vá esclarecer tudo na cabeça das pessoas mas esclareci grande parte, pelo menos na minha opinião".
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Intervalo para almoço no julgamento
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Recomeça o julgamento. Dux continua a falar, desta vez questionado pelos representantes da Lusófona, também arguidos no processo civel.
Os três advogados da universidade querem que João Gouveia deixe claro que a decisão de ir para o meco, para a casa, para a praia foi de cada um dos jovens.
Questionam sobre se o que é proposto pelo Dux no fim de semana no Meco poderia ser recusado pelos jovens... Dão como exemplo rebolar no chão, gatinhar, etc, como fizeram no primeiro dia à tarde.
João Gouveia diz que "podiam recusar".
A defesa da Universidade Lusófona questiona se a universidade patrocinou de alguma forma o fim de semana. O Dux respondeu que não.
Os advogados voltam a questionar: "A Lusófona foi avisada do fim de semana?". Dux volta a responder que não.
A universidade tenta excluir-se de qualquer responsabilidade. A defesa continua: As vítimas sempre demonstraram adesão totalmente livre e voluntária às praxes? Dux respondeu que sim.
defesa de joao gouveia
Começa a defesa de João Gouveia.
Questiona o jovem: "Era amigo das vítimas?". O Dux responde: "Sim. Mais íntimo da Carina, Catarina e Joana mas amigo de todos. Dava-me com todos".
Defesa puxa pelo facto de as vítimas também fazerem praxes aos caloiros que entregavam na universidade. As praxes aos caloiros que entravam eram coordenadas pelos representantes de cada curso. Todas as 6 vítimas eram representantes dos respetivos cursos. Defesa de Gouveia está a puxar por aí.
"Ninguém foi obrigado a nada", afirmou o Dux. "Tínhamos uma amizade fora dali", acrescenta.
"Único contacto que tínhamos com a universidade era quando necessitávamos de autorização para permanecer nas instalações da universidade até mais tarde. Mais na altura da semana dos caloiros", afirma João.
pai
José Campos, pai de Tiago Campos, começa a falar. O corpo do filho e de Catarina foram os primeiros a ser encontrados, logo no dia seguinte à tragédia.
O pai de Tiago não sabia que filho ia em fim de semana de praxe, para o Meco. O jovem tinha terminado o curso de Comunicação Aplicada, Marketing e Relações Públicas em junho de 2013 e inscreveu-se para o mestrado.
"Não sabia que o meu filho estava envolvido em atividades de praxe", afirma José Campos.
Pai Ana Catarina
Fala agora o pai de Ana Catarina Soares, José Soares. Conta que soube que filha ia de fim de semana para a zona de Sesimbra. "Sei que foi o namorado que a transportou para lá, mas só no sábado, os outros chegaram na sexta. Ela estava a fazer um estágio num hotel, em Lisboa", recorda.
O pai diz que não sabia que a filha era representante do curso nem que pertencia à comissão de praxe. "Qualquer jovem que fosse representante de algum curso sentir-se-ia orgulhoso", afima, sublinhando que Ana Catarina frequentava a licenciatura em Turismo.
"Não lhe dei qualquer dinheiro diretamente para aquele fim de semana. O que fazíamos era dar-lhe uma semanada que ela geria como entendia", explica o pai de uma das vítimas da tragédia do Meco.
Ana Catarina disse aos pais que ia de fim de semana para combinar as praxes do ano seguinte, 2014, e por isso ia de traje. "Sinceramente ela não ia de muito boa vontade. Só ia mais contente porque ia com o namorado. Mas não a vi de muito boa vontade naquele dia", recorda o pai da jovem.
Final
Termina a sessão. Vítor Parente Ribeiro, advogado das famílias falou ao CM à saída. "O julgamento só vai começar na próxima semana. Hoje era importante ouvirmos o João Gouveia. Apareceu, já é um bom princípio. Sete anos depois deu a cara, apareceu, apresentou a sua versão dos factos e agora vamos confrontá-lo com o que dizem as outras testemunhas", relatou.
O advogado dos pais das vítimas da tragédia lamentou que se tenha condicionado o facto de os pais das vítimas não poderem ter ouvido o depoimento do Dux João Gouveia.
A sessão será retomada esta quarta-feira e vão continuar a ser ouvidos os pais das vítimas.
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