Associação considera que as recomendações passam por tentar minimizar ao máximo as situações de julgamento social.
A cobertura mediática de crimes deve respeitar a dignidade, privacidade e vontade das vítimas, proteger informações pessoais, evitar julgamentos sociais, garantindo que qualquer testemunho seja voluntário e seguro, recomendou esta quinta-feira a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV).
"Enquanto organização que apoia as vítimas, efetivamente a nossa prioridade é sempre garantir que os direitos, os interesses e também as necessidades das vítimas são assegurados em todos os momentos", disse Cíntia Silva, criminóloga na APAV, que falava à Lusa a propósito de dois crimes de violência de filhos contra pais, ocorridos esta semana, que estão a ser investigados pela Polícia Judiciária.
Um dos casos foi o homicídio da vereadora de Vagos (distrito de Aveiro) Susana Gravato, alegadamente cometido pelo filho de 14 anos, e o outro a tentativa de homicídio do ex-presidente do Observatório de Segurança, Criminalidade Organizada e Terrorismo José Manuel Anes, pela filha.
Cíntia Silva realçou que os órgãos de comunicação social desempenham "um papel muito importante na perceção social do crime", na avaliação do risco que as pessoas sentem de se tornarem vítimas e no medo que podem ter de determinados tipos de crime.
Ao mesmo tempo, podem ter um impacto no processo de vitimação, advertiu, salientando que, por estas razões a APAV tem recomendações sobre como os media devem abordar "estas situações tão delicadas".
"As nossas recomendações são sempre no sentido de tentar minimizar ao máximo as situações de julgamento social. Porque existem instâncias e locais próprios para que o julgamento seja feito e sabemos que hoje em dia uma grande parte desse julgamento é feito através da internet e nas redes sociais", afirmou.
Segundo a especialista, também se deve evitar situações de vitimação secundária em que as vítimas acabam por reviver os aspetos negativos relacionados com a situação de que foram alvo.
Cíntia Silva destacou a importância de "dar voz a quem quer falar, a quem quer partilhar o seu testemunho".
"Muitas vezes as vítimas desejam falar e até pode ser parte do processo de recuperação", mas é igualmente necessário respeitar quem decide não o fazer.
Defendeu que todas as abordagens realizadas devem ser feitas com sensibilidade e respeito, considerando que as pessoas estão numa situação de "enorme vulnerabilidade" face ao crime que sofreram, e deve evitar-se "ao máximo fazer qualquer tipo de juízo de valor" mesmo relativamente ao infrator, devendo presumir-se a inocência até à sentença transitada em julgado.
Cíntia Silva destacou ainda que a vida privada e a intimidade da vítima devem ser respeitadas: "Mesmo quando as vítimas decidem falar e partilharem o seu testemunho, há pormenores da sua vida privada que deverão ser protegidos", disse, sublinhando que "a segurança e a proteção das vítimas têm que estar sempre em primeiro lugar".
Também deve ser garantido que o espaço onde as entrevistas são realizadas ou onde são recolhidas informações das vítimas seja adequado, preservando a intimidade e a segurança das pessoas envolvidas, salientou.
Questionada se a forma como se noticiam estes casos pode potenciar situações semelhantes, Cíntia Silva disse que "pode de alguma forma influenciar", mas ressalvou que "cada caso é um caso e vai depender sempre de várias circunstâncias, vários fatores e não apenas de uma única causa".
Mais de 2.800 pais agredidos pelos filhos pediram ajuda à APAV, entre 2022 e 2024, um aumento de 27,1%, com uma média de 2,6 casos por dia.
"Só em 2024, apoiámos cerca de 1.036 vítimas e, muitas destas situações estão enquadradas dentro do crime de violência doméstica", salientou.
Relativamente a homicídios cometidos por filhos contra pais, a especialista disse que a rede especializada da APAV "Hope", em funcionamento desde 2013, registou um único caso.
"Não temos muitos dados relativamente a situações de homicídio, mas percebe-se que temos tido mais vítimas por parte dos filhos. Outros tipos de violência que estão a aumentar, ou as pessoas pedem-nos mais ajuda", concluiu.
Quanto aos motivos, disse que podem coexistir várias circunstâncias, como questões financeiras, consumos de substâncias, problemas do foro mental.
Quando os agressores são mais jovens, disse, "a exposição à tecnologia e a exposição cada vez mais precoce à violência também podem ser fatores com algum impacto nestas situações".
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.