Herberto Helder, gigante da poesia portuguesa, morreu na segunda-feira, o que só ontem se soube. Discreto, até ao fim.
Muitos dos admiradores de Herberto Helder, muitos daqueles que o consideravam o maior poeta português vivo, nunca viram o homem que morreu anteontem, em Cascais, aos 84 anos. Nada mais natural, pois há muito que ganhara alma de eremita, saindo de casa poucas e espaçadas vezes, tal como dispensava comparecer a eventos literários ou conceder entrevistas. Tinha, como legítimos representantes, os poemas que reuniu nos livros publicados entre 1958 (‘O Amor em Visita’) e 2014 (‘A Morte sem Mestre’).
Discreto no fim – a morte só foi noticiada na manhã de ontem, a causa do óbito não foi anunciada e as cerimónias fúnebres, que decorrem hoje, são reservadas à família – tal como em vida, recusou o Prémio Pessoa, em 1994, pedindo (sem êxito) que o júri o entregasse a outra pessoa. Também era avesso a reedições das obras, que esgotavam e se tornavam alvo preferencial de colecionadores.
Herberto Helder Luís Bernardes de Oliveira nasceu no Funchal, a 23 de novembro de 1930, e veio para a capital, com 16 anos, fazer o liceu. Frequentou Direito, em Coimbra, e Filologia Românica, na Faculdade de Letras de Lisboa, sem concluir qualquer curso. De igual modo, a militância no PCP foi efémera, mas nas estradas do Alentejo, percorridas com as bibliotecas itinerantes da Gulbenkian, ganhou ficha na PIDE, rotulado de "subversivo" pela polícia política, atenta às "passagens de grande obscenidade" nos livros que começou a publicar, e nos quais o corpo feminino não deixava de ser celebrado. Também foi notada a "linguagem surreal e hermética" de quem frequentava o Café Gelo, onde paravam Luiz Pacheco e Mário Cesariny.
Também autor de prosa, incluindo o livro de contos ‘Os Passos em Volta’ (1963) e o biográfico ‘Photomaton & Vox’ (1979), numa das suas últimas entrevistas, em 1964, sentenciou: "Um artista consciente saberá que o êxito é prejuízo."
Família mantém silêncio
Muito parecido com o pai, como salta à vista de quem vê fotografias de Herberto Helder nos anos 60 e 70, o colunista e ex-dirigente do Bloco de Esquerda Daniel Oliveira deixou sempre claro que respeitava a "reserva absoluta" da vida privada do poeta.
Quando começou no jornalismo não revelava que era seu filho. "Nos primeiros três anos de vida profissional ninguém sabia. Tinha a vida facilitada: o meu pai não faz vida pública. O meu nome, sendo dele, é um apelido que não usa. Porque é que durante anos uma pessoa deve esconder quem é o pai? Não sei se era natural. Sei que foi bom para mim", disse ao jornal ‘Público’.
Herberto Helder casou-se duas vezes, a primeira das quais com Maria Ludovina Dourado Pimentel, e dessa união nasceu a filha mais velha, Gisela Ester. Teve mais tarde uma relação amorosa com Isabe lFigueiredo, mãe de Daniel Oliveira, e casou-se, pela segunda vez, com Olga da Conceição Ferreira de Lima, que o acompanhou até ao fim.
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