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Os poetas da sátira erótica na Roma antiga

Latinos riam do sexo, do desejo, do prazer e dos costumes da sociedade

21 de julho de 2019 às 06:00

Ovídio (foto de baixo), Marcial e Juvenal foram alguns dos poetas latinos cujos textos satíricos comprovam que a má língua e a malandrice resistem ao tempo: os mesmos assuntos, os mesmos traços de caráter, os mesmos pormenores que embelezam ou desfeiam o corpo fazem-nos rir e chorar (ou chorar a rir), hoje como há dois mil anos. Estes três autores criticaram os costumes da sociedade da Roma imperial, com alguma insistência nas práticas sexuais e no erotismo que as estimulava.

Públio Ovídio Naso (43 a.C.-17 ou 18 d.C.) nasceu no ano a seguir ao assassínio de César, cresceu durante a guerra civil e viveu praticamente o resto da vida no reinado de Augusto, que o exilou. Causa provável da desgraça poderão ser passagens da sua ‘Arte de Amar’ em que tratava do adultério, proibido pelo imperador. A sua obra mais conhecida é ‘Metamorfoses’.

Marco Valério Marcial (entre 38 e 41- entre 102 e 104) nasceu na atual cidade espanhola de Calatayud e mudou-se para Roma no ano do incêndio que devastou a cidade no reinado de Nero. A sua obra mais importante são os ‘Epigramas’, alguns com forte carga erótica.

O título da obra mais conhecida de Décimo Júnio Juvenal (segunda metade do séc. I - depois de 127) não deixa margem para dúvidas: ‘Sátiras’. São dele expressões que ainda hoje usamos para elogiar ou para criticar, como "mente sã em corpo são", "pão e circo" ou "quem vigia os próprios vigilantes?"

Do livro ‘Antologia de Poesia Latina Erótica e Satírica’. Seleção, tradução e notas de Custódio Magueijo,

J.   Lourenço   de   Carvalho   e   José

António   Campos,   prefácio   de   José Martins   Garcia.   Ed.   Fernando

Ribeiro de Mello/Edições Afrodite

De Ovídio, ‘A Arte de Amar’:

"(...) Quando tiveres encontrado o sítio que a mulher gosta de sentir tocado,

que o pudor não te seja impedimento para afagos.

Verás seus olhos cintilar com inquieto

fulgor,

como o sol a miúdo em águas claras

refulge.

Ouvirás queixumes, ternos murmúrios,

doces gemidos, palavras aptas ao jogo amoroso. (…)

Que a mulher em espasmo se penetre de gozo até à medula,

e que a volúpia seja igual para ambos

os dois."

 

De Marcial, ‘Epigramas’:

"(…) Por dois dinheiros de ouro pode-se foder Gala,

e por outros dois pode-se mais ainda que foder.

Porquê então, Ésquilo, tu lhe dás dez dinheiros de ouro?

Gala brocha por menos. Porquê então? Para que se cale!...

(…) Andavam sempre a dizer-me que Pola, a minha amante,

dormia às escondidas com um panasca. Ah, meu caro Zupo,

apanhei-os em flagrante… mas não era panasca!

(…) Lésbia jura que nunca a foderam de graça.

Tem razão: quando quer que a fodam… Lésbia paga!"

 

De Juvenal, ‘Sátira VI, 2’:

"(…) São bem conhecidos os mistérios de Cibele: a flauta excita

os flancos, levadas pelo som das trompas e pelo vinho,

fora de si, as bacantes de Priapo revolvem os cabelos

e ululam loucas. Oh! Com que ardor delas se apodera

o desejo da cama! Que vozes soltam sob o aguilhão da luxúria,

que caudal de vinho velho lhes escorre pelas coxas ensopadas!

Uma coroa é posta em jogo: Saufeia desafia até as

putas, e os movimentos das suas coxas valem-lhe o prémio.

(…) Então a lascívia não sofre demora, a mulher é toda fêmea,

e por todo o salão ressoa ao mesmo tempo um só grito:

‘Já está na hora, mandem entrar os homens!’ – Se o amante está dormindo,

mandam-lhe que envergue a capa e venha rápido;

se não têm amantes, atiram-se aos escravos; se é impossível dispor de

qualquer escravo, paga-se e faz-se entrar um aguadeiro; se nenhum encontram

se há falta de homens, nada as detém,

o tempo urge:

a um burro que as monte o cu oferecem!"

 

Bacanais e orgias

Festas em honra do deus do vinho, Baco, protagonizadas pelas bacantes. Excessos de bebida e sexo levaram o Senado a proibir as bacanais no ano 186 a. C.

Lupanar em Pompeia

Cada aposento está decorado com frescos revelando as posições e práticas realizadas   pela   prostituta   que   ali trabalhava, incluindo sexo oral, sexo anal ou trios.

O culto de Priapo

Deus da fertilidade representado por um homem com um pénis exagerado (priapismo). Os poemas erótico-satíricos fazem-lhe referências frequentes.

Rapto das sabinas

Carentes de mulheres, os primitivos romanos foram capturá-las à tribo vizinha dos sabinos: este mito fundador é um tema comum na literatura e arte europeias.

Petrónio e o ‘Satyrikon’

A comédia satírica do dramaturgo Petrónio, escrita na segunda metade do séc. I d.C., foi adaptada ao cinema pelo realizador italiano Federico Fellini em 1969.

As orgias de ‘Calígula’

Helen   Mirren   (na   foto) e Malcolm McDowell protagonizam ‘Calígula’, realizado por Tinto Brass em 1979, com descrições das orgias na corte daquele imperador.

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