Na nossa família há personagens que mereciam um romance. Ao contrário do que pensa a minha sobrinha Maria Luísa, essa personagem não sou eu; a minha vida – um conjunto irrelevante de acontecimentos – foi discreta, aborrecida e não deve servir de exemplo. Ela não conheceu o Tio Miguel Augusto, que passou à posteridade como o arabista da família, fama que o transformou numa excentricidade – para os nossos padrões – depois de uma viagem de negócios ao Cairo, onde um emir lhe teria oferecido um chapéu que conservou pela vida fora. Veio depois a descobrir-se que “o emir” não era egípcio, nem do Cairo, mas um António Emir Rodríguez Baldomero, que foi cônsul de Espanha em Samarcanda e pintor de estepes do Cazaquistão. Mas talvez gostasse de ter conhecido o primo Jaime Homem, que morreu em Roma há quatro anos; veio raras vezes a Portugal, e a última delas em 1968, para o funeral da Tia Benedita, que tratava como uma imperatriz de Constantinopla. Ele falava russo com a avó, francês e português com os pais, e turco na rua. Quando compareceu pela primeira vez à mesa da Tia Benedita, vestido de claro e com um guarda-sol debaixo do braço, diz-se que ela teve uma assombração, como se o Império Bizantino tivesse sobrevivido e enviado um embaixador ao reino de Ponte de Lima, naquele Verão de 1948.
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