A biblioteca dos Homem só não é poeirenta porque Dona Elaine, a discreta governanta deste eremitério de Moledo, a tem protegido contra vontade, indiferente ao facto de ela conservar alguns volumes preciosos que fazem parte da história da família e dos seus pecados políticos. Estes pecados, como o leitor já entendeu ou entenderá, prolongaram-se durante muitos anos e vão até à primeira metade do século XIX, altura em que, exaustos e conformados, nos dedicámos à sobrevivência, à bibliofilia, ao arroz de pato, aos banhos de mar e de iodo e às previsões meteorológicas, embora não por esta ordem. Crê-se que, com a instalação da República – e um pouco depois dela –, já não valia a pena tentar explicar às novas gerações que a História tinha defeitos na forma como tinha sido escrita. Definitivamente, éramos os derrotados. Conservando certa bonomia e espírito cavalheiresco, mantivemos a tentação (várias vezes repetida) de ficar no lado errado da História. Isto, que poderia ter favorecido a depressão ou o ressentimento, acabou por fazer de nós seres orgulhosos, pacíficos e, surpreendentemente, sem problemas digestivos. Portanto, de cada vez que há eleições, a família contempla o tecto ao final do almoço de domingo, comenta os mexericos – e suspira, aliviada por não haver ninguém que nos obrigue a correr com entusiasmo até “à mesa de voto”.
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