Lá se comemora hoje oficialmente, pela primeira vez, o 25 de Novembro de 1975. Não parece grande ideia, mas convenhamos que é só mais uma má ideia neste cinquentenário do 25 de Abril. A principal má ideia foi representar o 25 de Abril, nas comemorações oficiais, como uma espécie de Xangrilá, uma terra de leite e mel onde se resgataram a liberdade e a democracia das garras do fascismo para as entregar, ‘inteiras e limpas’, ao povo português. Este folclore omite que os dois anos entre 25 de Abril de 1974 e 25 de Abril de 1976 (quando foi eleito o primeiro parlamento constitucional), com o 25 de Novembro de permeio, foram dos mais violentos da história portuguesa. Houve golpes e contragolpes militares, milhares de presos políticos, tortura nas prisões, partidos proibidos, ataques à bomba, incêndios em sedes de partidos, ameaças de guerra civil e de novas ditaduras (de esquerda e de direita). A comemoração do 25 de Novembro tem pelo menos o mérito de meter estas coisas na conversa, mesmo se um bocado a martelo.
A versão oficial do cinquentenário foi tão mitológica que até permitiu à direita reivindicar-se do 25 de Novembro. Ora, o 25 de Novembro enquanto golpe (existente, inexistente, tentado, falhado?) e contragolpe foi sobretudo um assunto interno da esquerda, nomeadamente dos militares então ditos ‘moderados’ em ligação com o PS contra os militares revolucionários ligados ao PCP e à extrema-esquerda. A direita não meteu aqui prego nem estopa. A sua relevância está no facto de o PS se ter decidido juntar a ela entre Março e Novembro de 1975, quando passou a achar que PCP e extrema-esquerda queriam um Portugal de tipo soviético ou algo do género. Foi então que o PS se entendeu com tudo o que mexia: PPD (futuro PSD), CDS, extrema-direita, Igreja, etc. Daí que os militares ‘moderados’ se vissem obrigados, logo a seguir ao 25 de Novembro, a conter possíveis vinganças da direita não-democrática.
Felizmente que, em Novembro de 1975, existia um corpo central de partidos (PS, PPD, CDS) comprometidos com uma solução democrática, contra extremismos de um lado e doutro. Parece que o PS geringoncês quer esquecer este seu passado, em que ajudou a fundar a democracia contra o resto da esquerda. Não admira que alguém, mesmo se por portas travessas, venha-lhe relembrar isso.
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