Este sábado, levaram os gritos de revolta ao Rossio, em Lisboa, onde a música bateu sempre na mesma tecla: "Ajudem-nos. Estamos a morrer aos poucos".
Habituados a trabalhar à noite, o que atualmente tira o sono aos empresários e trabalhadores da diversão noturna em Portugal é o receio de não voltarem a abrir as portas, o que para alguns se tem revelado fatal.
Quase nove meses após fecharem as portas devido às medidas contra a pandemia de covid-19, as discotecas continuam em silêncio e os empresários desafiados pelo primeiro-ministro para se reinventarem acusam cansaço e dizem-se traídos com as novas medidas, nomeadamente as que obrigam os restaurantes a encerrarem às 13:00 ao fim de semana.
Este sábado, levaram os gritos de revolta ao Rossio, em Lisboa, onde a música bateu sempre na mesma tecla: "Ajudem-nos. Estamos a morrer aos poucos".
"Fomos completamente esquecidos. Vivemos num estado de direito, temos obrigações e deveres, mas também temos direitos", disse à agência Lusa o empresário Samuel Lopes, proprietário de um restaurante e de uma discoteca em Lisboa, e que hoje levou à manifestação a revolta dos empresários deste setor.
Samuel Lopes foi um dos que "reinventou" o seu negócio, mas continua com a discoteca de portas fechadas e agora não pode abrir o restaurante ao final da semana.
"Estamos há nove meses sem poder laborar, na discoteca. O Governo incentivou-nos a reinventarmos o nosso negócio e eu fui um dos que consegui e agora fecham-nos?", lamentou.
Segundo Samuel Lopes, são cada vez mais frequentes os casos de famílias que se ressentem com a falta de emprego neste setor que envolve um vasto menu de profissões: cozinheiros, empregados de mesa, porteiros, dj's, pessoal da limpeza.
"Por mais matemática que façamos, não conseguimos. A nossa margem é tão pouca, porque pagamos muitos impostos", disse.
E os que não conseguem ultrapassar as dificuldades sucumbem, às vezes à custa da própria vida, sendo cada vez mais frequentes os relatos de suicídios nesta área.
O medo e a incerteza têm feito os seus estragos na saúde mental dos profissionais deste setor. "Estamos perdidos, são noites sem dormir, tentamos ajudar-nos uns aos outros, mas está difícil, não conseguimos chegar a todas as portas, também precisamos de pão para a nossa família".
Num protesto marcado por frases fortes, condimentadas com muitos palavrões, houve um momento dedicado aos que perderam o emprego nestas áreas e, principalmente, aos que alegadamente se suicidaram, com um minuto de silêncio acompanhado de fumo preto e vermelho, solto de tochas empunhadas pelos promotores do evento.
Fortemente representado na manifestação esteve o setor da restauração, com o chefe de cozinha Ljubomir Stanisic a pedir ajuda para a restauração poder "continuar a ajudar o Governo".
"Isto está a desgovernar-se. São já 43.000 pessoas na rua. Somos obrigados a despedir as pessoas e não queremos", disse aos jornalistas no final do evento, que foi fortemente vigiado pela polícia.
E sobre o apoio anunciado pelo Governo de 20% da quebra da faturação registada nos primeiros nove meses deste ano, relativamente ao período homólogo de 2019, o cozinheiro classificou-as de serem "falsas perspetivas".
Isto porque, desde janeiro, os restaurantes estiveram a laborar com 50% da ocupação e, dessas 44 semanas, estiveram encerradas durante 11.
"Só queremos os nossos direitos, queremos ajudar o Governo como ajudamos até agora. Mas, por amor de deus, olhem para nós, estamos literalmente a morrer aos poucos".
Entre as várias medidas que estes empresários exigem do Governo, e que constam de um manifesto lido no início do protesto estão "apoios financeiros a fundo perdido de maneira a compensar os prejuízos acumulados ao longo de oito meses para o setor dos bares e discotecas, eventos, restauração, comércio e todos os fornecedores diretos e indiretos".
São igualmente reclamados "apoios à restauração e comércio pela redução de horário" e a "reposição do horário de funcionamento de restaurantes, bares e comércio local", bem como a isenção da Taxa Social Única (TSU) até 30 de junho de 2021, a redução da taxa de IVA até 31 de dezembro de 2021 e uma ajuda ao pagamento das rendas.
Apesar de não ter tido cortes no seu vencimento, Thiene, uma luso-brasileira a viver em Portugal há quatro anos, juntou-se ao protesto porque conhece "pessoas que estão com a falência decretada dos seus negócios".
"Se eu não pensasse nos outros estaria em minha casa sossegada, pois o meu vencimento continua a chegar certinho, mas eu não vivo numa bolha. Sei que há pessoas necessitadas. Nós somos um", disse à Lusa.
Thiene considera que o Governo não está a apostar no principal foco da infeção, que são os lares, lamentando que estes estejam a ser deixados para trás, como campos de concentração.
E não tem dúvidas: "Agora, isto só vai mudar quando for o povo contra o Estado".
Na manifestação houve ainda tempo para a música e a dança, com os participantes a provarem desta forma que já têm saudades de discotecas com as portas abertas.
Um momento de descontração que antecedeu um outro em que os ânimos se exaltaram depois de um dos oradores criticar a forma como um jornalista do jornal online Observador noticiou o número de participantes no encontro.
A polícia teve mesmo de impedir a passagem de alguns dos manifestantes, que aproveitaram o incidente para criticar a comunicação social, chamando de mentirosos aos jornalistas presentes.
Tal como começara, o encontro terminou ao som do hino nacional, embora a música ainda se ouvisse durante mais algum tempo, enquanto os manifestantes dispersavam, no primeiro fim de semana com recolher obrigatório a partir das 13h00.
Entretanto, o ministro da Economia anunciou este sábado que os apoios já disponibilizados ou anunciados para o setor da restauração na sequência da crise causada pela pandemia totalizam 1.103 milhões de euros, correspondendo a cerca de 60% do da quebra de faturação registada pelo setor.
A pandemia de covid-19 em Portugal causou a morte de 3.305 pessoas das 211.266 infetadas com o novo coronavírus.
Em todo o mundo, provocou pelo menos 1.305.039 mortos resultantes de mais de 53,4 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
o que achou desta notícia?
concordam consigo
A redação do CM irá fazer uma avaliação e remover o comentário caso não respeite as Regras desta Comunidade.
O seu comentário contem palavras ou expressões que não cumprem as regras definidas para este espaço. Por favor reescreva o seu comentário.
O CM relembra a proibição de comentários de cariz obsceno, ofensivo, difamatório gerador de responsabilidade civil ou de comentários com conteúdo comercial.
O Correio da Manhã incentiva todos os Leitores a interagirem através de comentários às notícias publicadas no seu site, de uma maneira respeitadora com o cumprimento dos princípios legais e constitucionais. Assim são totalmente ilegítimos comentários de cariz ofensivo e indevidos/inadequados. Promovemos o pluralismo, a ética, a independência, a liberdade, a democracia, a coragem, a inquietude e a proximidade.
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza expressamente o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes ou formatos actualmente existentes ou que venham a existir.
O propósito da Política de Comentários do Correio da Manhã é apoiar o leitor, oferecendo uma plataforma de debate, seguindo as seguintes regras:
Recomendações:
- Os comentários não são uma carta. Não devem ser utilizadas cortesias nem agradecimentos;
Sanções:
- Se algum leitor não respeitar as regras referidas anteriormente (pontos 1 a 11), está automaticamente sujeito às seguintes sanções:
- O Correio da Manhã tem o direito de bloquear ou remover a conta de qualquer utilizador, ou qualquer comentário, a seu exclusivo critério, sempre que este viole, de algum modo, as regras previstas na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, a Lei, a Constituição da República Portuguesa, ou que destabilize a comunidade;
- A existência de uma assinatura não justifica nem serve de fundamento para a quebra de alguma regra prevista na presente Política de Comentários do Correio da Manhã, da Lei ou da Constituição da República Portuguesa, seguindo a sanção referida no ponto anterior;
- O Correio da Manhã reserva-se na disponibilidade de monitorizar ou pré-visualizar os comentários antes de serem publicados.
Se surgir alguma dúvida não hesite a contactar-nos internetgeral@medialivre.pt ou para 210 494 000
O Correio da Manhã oferece nos seus artigos um espaço de comentário, que considera essencial para reflexão, debate e livre veiculação de opiniões e ideias e apela aos Leitores que sigam as regras básicas de uma convivência sã e de respeito pelos outros, promovendo um ambiente de respeito e fair-play.
Só após a atenta leitura das regras abaixo e posterior aceitação expressa será possível efectuar comentários às notícias publicados no Correio da Manhã.
A possibilidade de efetuar comentários neste espaço está limitada a Leitores registados e Leitores assinantes do Correio da Manhã Premium (“Leitor”).
Ao comentar, o Leitor está a declarar que é o único e exclusivo titular dos direitos associados a esse conteúdo, e como tal é o único e exclusivo responsável por esses mesmos conteúdos, e que autoriza o Correio da Manhã a difundir o referido conteúdo, para todos e em quaisquer suportes disponíveis.
O Leitor permanecerá o proprietário dos conteúdos que submeta ao Correio da Manhã e ao enviar tais conteúdos concede ao Correio da Manhã uma licença, gratuita, irrevogável, transmissível, exclusiva e perpétua para a utilização dos referidos conteúdos, em qualquer suporte ou formato atualmente existente no mercado ou que venha a surgir.
O Leitor obriga-se a garantir que os conteúdos que submete nos espaços de comentários do Correio da Manhã não são obscenos, ofensivos ou geradores de responsabilidade civil ou criminal e não violam o direito de propriedade intelectual de terceiros. O Leitor compromete-se, nomeadamente, a não utilizar os espaços de comentários do Correio da Manhã para: (i) fins comerciais, nomeadamente, difundindo mensagens publicitárias nos comentários ou em outros espaços, fora daqueles especificamente destinados à publicidade contratada nos termos adequados; (ii) difundir conteúdos de ódio, racismo, xenofobia ou discriminação ou que, de um modo geral, incentivem a violência ou a prática de atos ilícitos; (iii) difundir conteúdos que, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, tenham como objetivo, finalidade, resultado, consequência ou intenção, humilhar, denegrir ou atingir o bom-nome e reputação de terceiros.
O Leitor reconhece expressamente que é exclusivamente responsável pelo pagamento de quaisquer coimas, custas, encargos, multas, penalizações, indemnizações ou outros montantes que advenham da publicação dos seus comentários nos espaços de comentários do Correio da Manhã.
O Leitor reconhece que o Correio da Manhã não está obrigado a monitorizar, editar ou pré-visualizar os conteúdos ou comentários que são partilhados pelos Leitores nos seus espaços de comentário. No entanto, a redação do Correio da Manhã, reserva-se o direito de fazer uma pré-avaliação e não publicar comentários que não respeitem as presentes Regras.
Todos os comentários ou conteúdos que venham a ser partilhados pelo Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã constituem a opinião exclusiva e única do seu autor, que só a este vincula e não refletem a opinião ou posição do Correio da Manhã ou de terceiros. O facto de um conteúdo ter sido difundido por um Leitor nos espaços de comentários do Correio da Manhã não pressupõe, de forma direta ou indireta, explícita ou implícita, que o Correio da Manhã teve qualquer conhecimento prévio do mesmo e muito menos que concorde, valide ou suporte o seu conteúdo.
ComportamentoO Correio da Manhã pode, em caso de violação das presentes Regras, suspender por tempo determinado, indeterminado ou mesmo proibir permanentemente a possibilidade de comentar, independentemente de ser assinante do Correio da Manhã Premium ou da sua classificação.
O Correio da Manhã reserva-se ao direito de apagar de imediato e sem qualquer aviso ou notificação prévia os comentários dos Leitores que não cumpram estas regras.
O Correio da Manhã ocultará de forma automática todos os comentários uma semana após a publicação dos mesmos.
Para usar esta funcionalidade deverá efetuar login.
Caso não esteja registado no site do Correio da Manhã, efetue o seu registo gratuito.
Escrever um comentário no CM é um convite ao respeito mútuo e à civilidade. Nunca censuramos posições políticas, mas somos inflexiveis com quaisquer agressões. Conheça as
Inicie sessão ou registe-se para comentar.