Quase a completar 50 anos – que fará a 25 de junho – o ator está envolvido em dois grandes êxitos: a novela ‘Festa é Festa’, da TVI, e o espetáculo ‘Noite de Reis’, em cena no Teatro da Trindade, Lisboa. Pretexto para uma conversa em torno da profissão pela qual se apaixonou... por acaso.
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Integra o elenco da novela ‘Festa é Festa’ (TVI), um dos projetos de maior sucesso da televisão portuguesa. É tão divertido de fazer como é de ver?
Muito divertido. É o projeto mais longo em que participei. Estou lá há um ano, ano e meio – e os meus colegas há mais. E é dos produtos televisivos que mais gostei de fazer, por uma razão simples: é genuíno. Não é uma novela armada em série ou em filme.
O que é melhor? Argumento, colegas?
A leveza. Entrei numa máquina em andamento, que estava perfeitamente oleada. E isso facilita as coisas. Toda a gente sabe o que tem a fazer, portanto só tive de me encaixar. É fácil trabalhar nesses moldes: basta ser profissional e rigoroso, saber os textos e cumprir horários. Depois, a novela não tem o peso de outras... Não tem histórias com grande carga dramática. A minha personagem, ainda por cima, faz o contraponto da loucura dos outros. Sou o psicólogo da aldeia e funciono como uma espécie de público: reajo como o público reage lá em casa.
Em televisão é sobretudo conotado com a comédia?
É verdade. Normalmente chamam-me para papéis cómicos. Mas não me considero um ator cómico. Sou um ator. E se é verdade que em televisão me chamam para esse registo, no teatro já não. É engraçado. No Teatro Aberto faço sempre personagens austeras...
‘Pôr do Sol’, que fez sucesso em televisão e depois no cinema, é um projeto terminado?
Arrumámos esse capítulo. Foi um ciclo que durou três anos. Eu, o Manuel Pureza e o Henrique Dias, os criadores da série, achamos que está feito, e bem feito. O ‘Seinfeld’ tem uma frase que define o que sentimos. Quando comemos uma fatia de um bom bolo de chocolate, achamos que é o melhor bolo de chocolate do mundo. Mas se comermos cinco fatias, enjoamos. Não queríamos que o público se enjoasse do ‘Pôr do Sol’. Queríamos que a memória do projeto fosse positiva, para o público e para nós.
Nasceu em Évora, no ano do 25 de Abril. É importante, para si, ter a mesma idade da Revolução?
Nasci precisamente dois meses depois da Revolução. A 25 de junho de 1974. A minha mãe conta que estava grávida e que, com a excitação do que estava a acontecer, eu manifestei-me muito dentro da barriga dela. Acho que de alguma forma a minha preocupação com a luta pela liberdade, com a defesa dos direitos das pessoas, o meu apreço pelas conquistas que fizemos nessa altura vêm da barriga da minha mãe. Os meus pais eram de esquerda e acho que isso vem nos genes. Ainda não tinha nascido e já estava feliz com o 25 de Abril!
Os seus pais não são artistas?
Funcionários públicos. O meu pai era, também, músico amador, muito preocupado com a recolha da música tradicional portuguesa, nomeadamente a alentejana. A música sempre existiu na minha casa. Quando era pequeno, depois das fases de querer ser bombeiro e 30 outras coisas, queria ser músico.
E foi músico. Durante anos.
Sim. Comecei pela música. Vim estudar Direito para Lisboa. Não correu bem, óbvio. E muito cedo integrei o circuito dos bares da capital. Fui músico até perto dos 30, quando fiz teatro pela primeira vez. A minha estreia aconteceu num espetáculo para crianças, ‘Festa na Floresta’, produzido pela Plano 6, da Ana Rangel. Que costumava ir ver-me cantar. Um dia, ela andava à procura de alguém para integrar o elenco de um musical e perguntou-me se eu queria experimentar. Eu, com alguma inconsciência, disse que sim. Lá fiquei. Foi uma experiência que me marcou para a vida – tanto que continuo aqui.
Surgiram logo outros convites ou andou à procura de trabalho no teatro?
As coisas foram acontecendo. Tem sido sempre assim. Fui-me deixando ir, quando achava que devia. Recebo esse telefonema, a seguir faço outro espetáculo para a Plano 6; depois faço o ‘Sabonete’ na Barraca, também com produção da Ana Rangel, logo a seguir vou ao Teatro Aberto fazer a ‘Ópera de Três Vinténs’, do Brecht. Disseram-me que havia uma audição, fui e fiquei. Logo a seguir fui fazer a ‘Floribella’, na SIC, porque já tinha trabalhado, como músico, num programa da Teresa Guilherme, que se chamava Paródia Nacional, em 1997.
Descobriu a sua paixão definitiva?
Descobri que sou melhor ator do que músico, o que não quer dizer que não venha a descobrir outras paixões. Como a encenação, por exemplo. Encenei pela primeira vez há seis anos e é algo que amo de paixão. Vou encenar uma peça que estreia em setembro. É o meu grande projeto deste ano.
Gosta de mandar?
Gosto de dirigir processos criativos, mas não gosto de ter o controlo absoluto sobre todas as vertentes do espetáculo. Gosto de delegar e preciso de confiar na equipa: em quem faz a cenografia; o desenho de luz... Preciso que cada um saiba o que está a fazer.
Do que gosta mais na encenação?
Da direção de atores. E de dar a minha perspetiva sobre determinado texto. A encenação, como a realização, como a pintura é sempre um manifesto. Quando o Ricardo Neves-Neves encena a ‘Noite de Reis’ é porque quer dizer alguma coisa. O facto de a dirigir assim, é um manifesto. O espetáculo é divertido, pueril, uma maravilhosa brincadeira gay – no sentido lato, da alegria. É disso que gosto. Quando encenei ‘Avenida Q’, que era um espetáculo de marionetas para adultos, interessava-me falar do conflito que existe na passagem da juventude para a idade adulta; o sofrimento que acarreta.
E essa encenação que prepara, o que tem para dizer ao público?
O projeto, produzido pela Força de Produção, estará no Maria Matos a partir de 11 de setembro. É um musical de grandes dimensões que já esteve na Broadway. Chama-se ‘Dear Evan Hansen’ e tem uma linguagem diferente de tudo aquilo que vi e ouvi até agora. Fala sobre a ansiedade na adolescência, sobre as culpas da paternidade, a forma como os pais se penalizam tanto pelas dores de crescimento dos filhos. Fala da importância da empatia e de estarmos aqui todos uns para os outros.
Neste momento integra o elenco da peça ‘Noite de Reis’, de Shakespeare, no palco do Trindade. Um espetáculo que já foi visto por muitos milhares de pessoas. Como explica este sucesso?
O espetáculo deixa-nos a sensação de que a vida também pode ser, e deve ser, brincada. Normalmente não aceito fazer substituições, mas vim substituir o Adriano Luz porque depois de ver o espetáculo não consegui resistir. É curioso. Só nós, cá em Portugal, é que achamos que Shakespeare é muito sério. Para os ingleses é o autor mais popular do mundo. O Ricardo Neves-Neves recuperou isso. Isto é uma narrativa de novela, quase... A abordagem dele está certa.
Já disse que o pior da sua profissão é a instabilidade...
Não sou dos que mais se pode queixar mas a nós, enquanto atores, faz-nos falta a organização que existe noutros países, onde os sindicatos funcionam mas funcionam mesmo.
É bom a gerir dinheiro?
Aprendi a ser. Poupo. Gasto, também, não me privo. Mas não tenho dívidas. Não devo um tostão ao banco, o que nesta fase da minha vida é muito bom.
Tem um filho, fruto do relacionamento com a atriz Ana Cloe. Sempre quis ser pai?
Nunca quis ser pai. Mas foi uma decisão conjunta. Houve uma altura em que chegámos à conclusão de que tinha chegado a hora de sermos pais. Uma decisão consciente. E foi bom. É bom. A paternidade é uma experiência maravilhosamente difícil. O meu filho é, neste momento, a minha razão maior de viver. Mas é uma luta diária, feita com angústia, com erros e com culpa. Educar uma pessoa é uma epopeia.
Vai repetir a experiência?
Não (risos). É demasiado cansativo.
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