Estamos a substimar as crianças

No mundo ‘ideal’ e politicamente correto que estamos a construir para as nossas crianças, o Lucky Luke já teve de trocar o cigarro por uma palhinha; o Popey obrigado a deixar o cachimbo e a comer espinafres orgânicos; a Olivia Palito transformou-se numa aventureira empoderada; o Papa-léguas e o Coiote viraram os melhores amigos; Tom e Jerry foram banidos em alguns países por promoverem a violência; na nova versão do Dartacão (pensada "para as meninas") Julieta já não é mais uma donzela indefesa; há músicas infantis que são reescritas por promoverem o machismo, a submissão feminina e a falta de consentimento (até o clássico ‘Fat Bottomed Girls’, dos Queen, foi retirado do novo Greatest Hits, por ser impróprio para os mais novos). Neste mundo que queremos politicamente correto já tínhamos uma Pequena Sereia negra e agora uma Branca de Neve de pele escura e sete anões que já não são anões, mas que representam várias etnias, géneros e orientações sexuais. Neste mundo ‘ideal’ já estamos a tentar convencer as crianças que o príncipe ‘roubar’ um beijo à Bela Adormecida é abuso sexual, que a corte feita à Cinderela é assédio e não deve demorar muito a tirar-se a capa vermelha ao Capuchinho por se considerar sexista. Neste mundo ‘ideal’ já não há lugar para patinhos feios, bruxas más, príncipes encantados, princesas desamparadas, nem lobos maus... Mas será que estamos mesmo a proteger as crianças, subestimando-lhes a inteligência, escondendo-lhes o mundo real e retirando-lhes o ‘errado’, a diferença, o desafio, o medo e as ferramentas para os enfrentar?