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Mastigação deve envolver os dois lados da boca

Alterações na mastigação podem ter consequências digestivas e nutricionais, entre outras.

16 de fevereiro de 2019 às 10:18

Automática, natural, rotineira. Com frequência, a mastigação é considerada um dado adquirido, mas esta função, quando alterada, pode estar na origem de problemas digestivos, dentários, anatómicos ou musculares, nutricionais e até mesmo ter impacto na relação com os outros.

"Mastigar bem beneficia o equilíbrio muscular da face, promove a saúde oral e facilita a digestão. É um processo que envolve várias estruturas e, por isso, tem impacto no nosso bem-estar", explica ao CM Ana Paris Leal, membro do departamento de motricidade orofacial da Sociedade Portuguesa de Terapia da Fala.

Reconhecendo que "a maioria da população habitualmente não associa a mastigação a outras questões além das nutricionais", a terapeuta refere que a função deve envolver os dois lados da boca. "O padrão ideal é uma mastigação bilateral, ou seja, mastigar dos dois lados da boca. Pode ser simultânea, mastigar dos dois lados ao mesmo tempo, ou alternada, começar de um lado e passar a comida para o outro lado", esclarece Ana Paris Leal, acrescentando que "os movimentos verticais de abrir e fechar a boca, e de rotação de mandíbula são outros fatores do padrão ideal".

Há ainda umas quantas barreiras a ultrapassar nesta área, sobretudo junto das famílias. "Para os pais, por vezes, é difícil compreenderem que a mastigação é um processo aprendido. Não percebem como é que aquilo que fizeram toda a vida, mastigar alimentos, pode ser difícil para os seus filhos", destaca. Mas, apesar da mastigação ser "um processo aprendido, não inato, e por isso depender da experiência, do treino", há "outros fatores que poderão influenciar esta capacidade", como alterações estruturais do crânio e da face ou lesões cerebrais, entre outros cenários.

Recusa de alimentos sólidos alerta famílias

Existem várias formas de alterações na mastigação, com diferentes causas. "Mediante a causa e as queixas da criança ou adulto, pode haver necessidade de intervenção de diferentes especialidades, como o terapeuta da fala, o dentista, a nutricionista, o estomatologista, entre outros", afirma Ana Paris Leal, terapeuta da fala.

Ainda assim, "em bebés e crianças, um dos motivos que os leva à consulta de terapia da fala é a recusa de alimentos que exigem mastigação", isto é, "os pais sentem dificuldade em mudar da dieta pastosa, como sopas passadas e papas, para alimentos com outra textura, mais próximos da alimentação da família".

A mastigação unilateral, num só lado da boca, é "outro dos motivos de procura de ajuda, principalmente porque a harmonia da simetria da face fica afetada". Queixas com o tempo de duração da refeição, obstipação ou fezes muito duras também motivam a procura de ajuda.

Mau padrão pode afetar processo de digestão

"Um mau padrão de mastigação pode desencadear uma série de problemas", incluindo dificuldades de digestão, alerta Ana Paris Leal. "Quando os alimentos não são devidamente triturados nem envolvidos com a saliva, o processo de digestão fica comprometido, assim como a sensação de saciedade", explica a terapeuta da fala.

Discurso Direto

Ana Paris Leal

Terapeuta da Fala

" É área de atuação do terapeuta"

CM -O que é a motricidade orofacial?

Ana Paris Leal – A motricidade orofacial é uma das áreas de atuação do terapeuta da fala. Diz respeito ao estudo, capacitação e reabilitação de estruturas como a língua, os lábios, as bochechas, os músculos, entre outras, e funções localizadas na zona orofacial - formada pela boca e face - e do pescoço.

– Como é que esta área de atuação da Terapia da Fala se relaciona com a função da mastigação?

– A mastigação é uma das funções do sistema localizado nesta área do nosso corpo, designado por sistema estomatognático. Para além da mastigação, este sistema tem outras funções, tais como a respiração, a sucção, a deglutição, a fala, a mímica facial, entre outras.

PORMENORES

Alterações temporárias

Podem surgir alterações na função da mastigação devido ao aparecimento de aftas, cicatrizes nos lábios ou queimaduras na boca. Nestes casos, espera-se que as dificuldades sejam passageiras e terminem com a recuperação das lesões.

Problemas respiratórios

Alterações respiratórias que obriguem à respiração pela boca, como a rinite, amígdalas inflamadas ou o desvio do septo, também podem interferir na mastigação. Da mesma forma, incluem-se as queixas na produção de saliva.

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