divulgação das listas de candidatos a deputados é a prova de que os maiores partidos não estão interessados em regenerar o Parlamento. Como até aqui, os grandes grupos económicos irão continuar a estar representados na Assembleia da República (AR). E, mais uma vez, serão as sociedades de advogados as maiores promotoras da promiscuidade entre negócios e política.
Os advogados nunca deveriam poder ser deputados. Pela natureza da profissão, no advogado convergem todos os interesses privados dos seus clientes. Em certas circunstâncias, são conflituantes com o interesse público que, enquanto deputados, devem defender. Quando tiverem de escolher entre a lealdade ao povo que os elegeu ou a fidelidade aos interesses económicos que representam, restam poucas dúvidas sobre quem recairá a opção.
As poderosas sociedades jurídicas já garantiram a sua futura representação parlamentar. A "Morais Leitão", que promoveu na política os atuais governantes Assunção Cristas e Mesquita Nunes, lança agora para a AR o advogado Francisco Mendes da Silva. Assim, clientes como Mota-Engil, EDP e outros continuarão a ser protegidos no Parlamento. Podem beneficiar de informação privilegiada e continuar a influenciar a produção de leis que regulamentam os setores onde atuam.
O mesmo acontecerá com os clientes do escritório de Rui Pena, de onde sai o social-democrata Matos Correia e representante dos negócios de José Luís Arnaut, também sócio do mesmo escritório. Arnaut, que partilha interesses nos CTT com o socialista António Vitorino, este também sócio do eurodeputado Paulo Rangel, na firma de advogados "Cuatrecasas". Da lista de advogados famosos que entrarão na AR em outubro consta ainda Clara Marques Mendes, do escritório da família Marques Mendes. Ou o socialista Vitalino Canas que defende os interesses da Rede Aga Khan e do Banco Português de Gestão. O advogado-deputado degrada o sistema político de representação parlamentar, ao transformá-lo num mero escritório de representações empresariais.
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