Poderia ser apenas um caso triste de alguém em sofrimento, se tivesse procurado ajuda e se se tivesse afastado da vida pública. Mas não: o que aconteceu foi crime, não foi fragilidade. E o mais preocupante não é o gesto em si, mas a tentativa de o embrulhar em compreensão e pena. Quando um autarca assalta à mão armada, como aconteceu em Setúbal, não há recaída que sirva de desculpa, nem “momento difícil” que apague a gravidade do ato.
Curioso como a empatia muda de cor conforme o partido. Recorde-se o ‘deputado das malas’, do Chega - são notórios os problemas psicológicos, mas ninguém pediu moderação no julgamento público. Foi, e bem, ridicularizado e afastado. Já aqui, o apelo é à calma e à ponderação. No poder local, onde todos se conhecem, essa complacência é ainda mais indecente. A política, que devia exigir rigor e decência, tornou-se refúgio de irresponsáveis. Onde parece valer quase tudo.
Tem sugestões ou notícias para partilhar com o CM?
Envie para geral@cmjornal.pt
A política, que devia exigir rigor e decência, tornou-se refúgio de irresponsáveis.
O que Campos e Cunha contou foi a história de um país à beira da desgraça.
O que é inadmissível não é só a falha do sistema, mas como a dignidade de Umo Cani foi destruída.
Pela primeira vez, três juízes desembargadores sentam-se no banco dos réus - um gesto simbólico que abala a própria ideia de justiça.
Hoje, ao ver figuras como André Ventura clamar por um “Salazar moderno”, somos lembrados do perigo de reescrever a história.
O que parece um processo democrático é, na prática, uma aritmética distorcida.