Poderia ser apenas um caso triste de alguém em sofrimento, se tivesse procurado ajuda e se se tivesse afastado da vida pública. Mas não: o que aconteceu foi crime, não foi fragilidade. E o mais preocupante não é o gesto em si, mas a tentativa de o embrulhar em compreensão e pena. Quando um autarca assalta à mão armada, como aconteceu em Setúbal, não há recaída que sirva de desculpa, nem “momento difícil” que apague a gravidade do ato.
Curioso como a empatia muda de cor conforme o partido. Recorde-se o ‘deputado das malas’, do Chega - são notórios os problemas psicológicos, mas ninguém pediu moderação no julgamento público. Foi, e bem, ridicularizado e afastado. Já aqui, o apelo é à calma e à ponderação. No poder local, onde todos se conhecem, essa complacência é ainda mais indecente. A política, que devia exigir rigor e decência, tornou-se refúgio de irresponsáveis. Onde parece valer quase tudo.
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O Estado hesita, e nessa hesitação perde-se algo essencial: a ideia de que a lei não é decorativa. Porque a Justiça que tarda não é apenas injusta - é perigosa.
Mariana provou que a justiça não é para todos.
Quem é chamado a gerir o que é de todos deve aceitar sem reservas o escrutínio.
Enquanto o debate público insistir na culpa da vítima e não na responsabilidade coletiva, continuaremos a falhar - às mulheres, às crianças e à própria ideia de justiça.
Quando estão em causa políticos, a prioridade deveria ser sempre a clareza, a confiança e a responsabilização.
Quando uma decisão de inconstitucionalidade acontece, o debate devia a ser outro.