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Eduardo Dâmaso

Eduardo Dâmaso

Jornalista

A balada de Dom Pippo Caló

05 de novembro de 2025 às 00:31

A renúncia de Delille a defender Sócrates, a tese do “simulacro” e da “hostilidade da juíza” fazem lembrar o antológico episódio de Dom Pippo Caló, o tesoureiro da Máfia, no maxiprocesso de Palermo. Com as devidas distâncias, claro. Ali estavam quase 500 mafiosos, toda a história da Cosa Nostra da II Guerra Mundial até aos anos 80, com dezenas de cadáveres às costas. Aqui, está apenas um ex-primeiro-ministro que se julga situado entre a perseguição a Dreyfus e Cristo na cruz. Não é uma ameaça à ordem pública, mas tem de explicar uma fortuna obtida no exercício de funções que não caiu do céu. Enfim, cada país com o seu maxiprocesso. Dom Pippo foi a primeira peça da estratégia dilatória do vasto naipe de réus. Foi a primeira acareação com o arrependido Buscetta. Se funcionasse, o tribunal teria de fazer dezenas. Ainda hoje lá estariam. Dom Pippo saiu do confronto com o tribunal, com os factos, com Buscetta, muito desanimado. O esquema acabou ali. Com Delille e Sócrates a juíza Susana Seca também foi paciente e pedagógica, como o tribunal italiano. Aturou as primeiras insolências. O terreno parecia mole. Agora travou todas as manobras e empurrou-os, sem querer, para um expediente caricato. Mais coisa, menos coisa, como na balada de Dom Pippo Caló. Caricato é o traço de união entre uns e outros. 

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